02 out, 2016 - 12:20 • José Pedro Frazão
Podemos dizer que o plano de recolocação de refugiados falhou ? Sim, responde António Vitorino, antigo comissário europeu com a tutela das migrações, lançando um olhar retrospectivo no programa “Fora da Caixa” da Renascença.
“Podemos dizer que é um caso típico de quando os propósitos são muito louváveis, mas as palavras e os compromissos vão muito mais depressa do que a capacidade de resposta”, justifica o antigo ministro da Defesa, para quem o mecanismo de relocalização “ era uma boa ideia e generosa”. Visava recolocar 160 mil refugiados sírios e eritreus entre os países europeus e saldou-se pela recolocação, até este momento, de cinco mil.
Para Pedro Santana Lopes, nem tudo é mau, apesar de um “ desvio muito grande” no número de colocações de refugiados nos diferentes países que se resumem numa “percentagem irrisória”. O antigo primeiro-ministro considera que a União Europeia tem trabalhado de modo positivo na organização dos núcleos de refugiados que existem.
“Apesar de tudo, julgo que a organização das tarefas melhorou. Mas ao nível de despesa necessária para aguentar determinado tipo de comportamentos, apesar das dificuldades dos refugiados, quanto custam todos aqueles transportes e embarcações ? Como é que os que financiam os lugares terão recurso e disponibilidades para suportar estas operações? Há um garrote a apertar”, alerta o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em resumo, “ninguém pode dar uma situação explosiva como estas como estabilizada sem ser entre parêntesis".
Reforçar missões militares
Actuar a montante continua a ser fulcral na gestão da crise migratória, argumenta Vitorino. O comentador da Renascença apela a um maior envolvimento da comunidade internacional na garantia de sustentabilidade dos campos de refugiados da Jordânia, do Líbano ou da Turquia,
“E é isso que provavelmente é a prioridade neste momento, porque há pessoas que estão a tentar entrar nos campos, na Jordânia e no Líbano, e esses campos já não têm maior capacidade de resposta”, observa o militante do PS, favorável a um reforço simultâneo de contenção dos fluxos migratórios no Mediterrâneo Oriental e também no Central.
“As missões militares, de fronteiras mas também de apoio e salvamento, vão ter de ser reforçadas porque hoje a grande pressão está aí. Está no Mediterrâneo Central, oriunda da Líbia e agora cada vez mais do Egipto. Atenção a esta novidade recente: esta semana houve também um grande naufrágio. Os refugiados começam a sair, não apenas das praias da Líbia, mas também das praias do Egipto. E enquanto na Líbia não há Estado, no Egipto existe um Estado e, aliás, toda a gente diz, bastante pesado."
"A diplomacia não pode deixar de chamar o governo egípcio à sua responsabilidade no controlo da fronteira externa egípcia”, afirma o antigo comissário europeu das migrações, no programa “Fora da Caixa".