06 out, 2016 - 00:45 • José Pedro Frazão
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Numa edição especial do programa Fora da Caixa, o comentador da Renascença que, tal como António Guterres, também já foi primeiro-ministro, partilha as suas notas sobre o mundo que espera Guterres, começando pelas sequelas de uma vitória que classifica como extraordinária.
Estas são as ideias de Santana Lopes, tal como as escutámos na radio, em debate com António Vitorino, ao final da tarde de quarta-feira, o dia em que ficamos a saber que António Guterres vai liderar.
Mais querido lá fora que cá dentro
“Os portugueses devem pensar nisto. Não sei se António Guterres estivesse na política nacional tantos portugueses estariam a dizer bem dele. E, no entanto, todo o mundo o quer. E todo o mundo o quer para as mais altas funções. E por mérito dele, António Guterres. Como diz o Presidente da República, ele é uma pessoa com qualidades excepcionais. É uma grande alegria e é bom para a auto-estima de Portugal e dos portugueses."
A democracia venceu o jogo dos vetos
“Diria que a Assembleia-Geral da ONU impôs-se a esse direito de veto, esse poder superior dos membros permanentes. Isto é uma grande novidade. Aquela cena que vimos, com os 15 membros do Conselho de Segurança todos juntos, é algo absolutamente inovador. É um tempo novo que oxalá tenha sequência. Estou convencido que o talento politico de António Guterres e as circunstâncias do mundo permitirão que assim aconteça. Todos estávamos receosos que mais uma vez a lógica do poder de uma 'mão-neste-caso-visível' dos membros permanentes pudesse sobrepor-se à vontade democrática repetidamente manifestada."
Prioridades: dos refugiados à própria ONU
“Isto é um motivo de esperança. Mas também é um motivo para levar por diante a tão desejada reforma da ONU, do próprio Conselho de Segurança que tão falada e necessária é há muitos anos. Espero que o engenheiro Guterres seja capaz de levar o seu conhecimento dessa realidade [dos refugiados] ao investimento a montante, no desenvolvimento dos países de origem destes movimentos [de migrantes] que continuam chegar às costas do continente europeu. Já vimos como é difícil ou impossível resolver aqui. Sabemos que demora tempo a fazê-lo a montante. Mas sem isso é quase impossível."
Um aparecido em combate
“Fiz notar em vários programas Fora da Caixa, da Renascença, o quase desaparecimento do secretário-geral cessante Ban-Ki-moon da cena internacional no que respeita a essa matéria. Estou convencido que agora a ONU vai ter a sorte de ter agora um secretário-geral profundamente conhecedor desse problema que tanto nos atormenta."
Não esquecer a desfeita de alguns aliados
“Não podemos ser rancorosos, mas não nos devemos esquecer que aliados nossos, parceiros europeus próximos ou não na geografia, não contribuíram para este processo. Pelo contrário. tentaram fazer com que ele não vingasse. De qualquer maneira pode ser bom para a União Europeia, esta eleição de um cidadão de um dos seus Estados-membros, para mais de um Estado que tem uma especial sensibilidade - pela aliança entre Portugal e o Reino Unido - para as relações com um país tão importante que está em processo de saída da União Europeia."
A estrelinha portuguesa
"Portugal, apesar de tudo, vai tendo uma 'estrelinha'. Numa altura da vida do mundo, em que não sabemos que blocos continuarão coesos e que blocos se desagregarão, em que não sabemos a força do projecto da União Europeia neste futuro que aguarda o mundo , esta eleição permite a Portugal continuar presente nos centros de decisão, manifestar a sua influência e mostrar a sua capacidade que temos para falar com o mundo todo, agora reconhecida com este resultado extraordinário."