07 out, 2016 - 15:19 • Filipe d'Avillez
O principal grupo de rebeldes em Alepo, na Síria, rejeitou esta sexta-feira a proposta feita pela ONU, com o apoio da Rússia, para abandonar a cidade em troca de livre passagem.
Cercados há semanas pelas forças do regime, os bairros rebeldes de Alepo estão sob fortíssimo bombardeamento e assalto terrestre. Os combates não deixam de fazer vítimas entre os cerca de 250 mil civis que vivem no território.
O regime sírio e a Rússia, que apoia o regime, têm ignorado os apelos para deixar de bombardear a zona rebelde de Alepo, prometendo tudo fazer para dominar o território em pleno. A ocupação definitiva da cidade – a maior e mais importante, economicamente, da Síria – seria uma importantíssima vitória para o regime e implicaria a perda do último reduto urbano dos rebeldes.
Criticando tanto os “bombardeamentos cruéis” das forças pró-regime como o facto de os rebeldes estarem a sujeitar os civis ao terror, continuando o combate nas zonas cercadas, o enviado do secretário-geral da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, ofereceu-se para escoltar pessoalmente os rebeldes da cidade, possibilitando assim o fim do conflito naquela região em particular.
Moscovo apressou-se a dizer que apoiava a ideia e que tudo faria para convencer Bashar al-Assad a aceitar.
Mas a Jabhat Fatah al-Sham, o principal grupo rebelde, já rejeitou a proposta da ONU. O grupo, que era conhecido até Agosto como Jabhat al-Nusra e era aliada da al-Qaeda, diz que a sua missão é fazer a jihad na Síria e que não pode trair o povo islâmico, abandonando-o.
“A Fatah al-Sham é uma força jihadista e é um dos pilares militares da revolução síria. Não desiludirá os muçulmanos que têm sido aniquilados. Como pode um combatente livre entregar a sua família? A nossa força está em Deus. Estamos determinados a quebrar o cerco, concertando esforços com os nossos irmãos, juramos que seremos mortos como os mais nobres dos soldados antes de nos rendermos de forma humilhante", anunciou a Jabhat Fatah al-Sham em comunicado.
O grupo reserva críticas particularmente duras para Staffan de Mistura, acusando-o de estar alinhado com Bashar al-Assad. “As propostas de de Mistura estão em linha com as recentes declarações de Bashar Assad para esvaziar Alepo dos seus revolucionários. Será que de Mistura é capaz de acompanhar as crianças doentes de Madaya até ao hospital mais próximo? Ou de assegurar a entrega de comida a uma das regiões cercadas? De Mistura não foi capaz de impedir por uma hora os bombardeamentos de Assad”, dizem os rebeldes, desvalorizando assim a sua oferta de supervisionar pessoalmente uma livre passagem para fora da cidade.
Destruir e consolidar
Alepo encontra-se dividida desde o início da insurreição contra Assad. Neste momento a cidade está ocupada na sua maior parte por forças leais ao regime, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas. Os rebeldes ocupam apenas alguns bairros, totalmente cercados, onde vivem 250 mil pessoas. Em Agosto, um esforço conjunto dos vários grupos rebeldes conseguiu furar o cerco do regime durante algumas semanas, mas um contra-ataque voltou a fechá-lo.
O regime de Assad domina actualmente todas as cidades na faixa ocidental do país, à excepção desses redutos em Alepo. Essas cidades albergam nada menos que 80% da população da Síria e o regime sabe que, caso consiga assegurar essa faixa, poderá normalizar, no essencial, o funcionamento do país, transformando a revolta numa questão essencialmente rural e marginal.
A experiência recente de cidades como Homs, que chegou a estar inteiramente ocupada pelos rebeldes, demonstra que Assad está disposto a destruir totalmente as zonas em mãos inimigas, o que levou de Mistura a dizer que, se a situação continuar como está agora, as áreas rebeldes de Alepo poderão nem sequer existir no final do ano.