16 out, 2016 - 23:05
O candidato republicano à vice-presidência dos Estados Unidos, Mike Pence, voltou a evidenciar uma diferença de opinião do seu companheiro de candidatura, Donald Trump, ao acusar Moscovo de lançar um ciberataque para influenciar as presidenciais norte-americanas.
Pence, que já se tinha demarcado de Donald Trump, nas suas opiniões sobre as acções russas na Síria, contradisse o empresário, assegurando que "não há dúvida de que as provas continuam a apontar" para ter sido a Rússia quem pirateou correios electrónicos do Partido Democrata, com o objectivo de influenciar as eleições do próximo dia 8 de Novembro.
"Deveria haver graves consequências para a Rússia ou qualquer outra nação soberana que se tivesse infiltrado na privacidade ou na segurança dos Estados Unidos", afirmou Pence, numa entrevista à cadeia televisiva Fox News, noticia a agência espanhola Efe.
"A minha esperança é que haja consequências, como disse o [actual] vice-presidente [Joe Bidden] hoje de manhã a outra televisão. Temos de proteger a segurança cibernética deste país. A minha esperança é que esta administração actue", para responder à Rússia, afirmou.
A campanha da candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, acusa desde Julho último a Rússia de ter atacado a infra-estrutura do Comité Nacional Democrata, para roubar 20 mil endereços electrónicos e publicá-los através da rede "WikiLeaks".
Depois de uma investigação, na passada semana, o Governo de Barack Obama concluiu que a Rússia estará de facto por detrás dos ciberataques à candidatura democrata, e prometeu uma resposta "proporcional" a Moscovo, que terá atuado com o objectivo expresso de influenciar o resultado das presidenciais norte-americanas.
Hoje, o Presidente russo, Vladimir Putin, reagindo às declarações da administração norte-americana, afirmou que dos Estados Unidos se pode esperar "qualquer coisa", comentando as ameaças de Washington em lançar um ataque cibernético contra a Rússia, como represália pela suposta ingerência na campanha presidencial.
"Dos nossos amigos e parceiros norte-americanos pode-se esperar qualquer coisa", disse Putin em Goa, na Índia, onde participou numa cimeira dos BRICS, grupo de países constituído pela Rússia, Brasil, Índia, China e República da África do Sul.
Putin, segundo a agência noticiosa oficial russa Ria Novosti, citada pela Efe, disse que "não há nada de novo" e acrescentou: "Por acaso não sabemos escutam e nos espiam a todos?".
"Isto sabe-se desde há muito tempo, não é nenhum segredo, os testemunhos abundam, e gastam em tal milhares de milhões de dólares", disse.
O Chefe de Estado russo indicou que os Estados Unidos espiam não apenas os seus potenciais adversários, ou os que considera como tal, mas também os aliados mais próximos.
"Não há nada de novo. A única novidade consiste em que é a primeira vez que os Estados Unidos o reconhecem a alto nível e, em segundo lugar, proferem uma ameaça, o que não cabe nas normas de conduta das relações internacionais".
Putin advertiu que, entre os jornalistas que o acompanham nesta viagem, alguns deles podem ter interesse para os "respectivos serviços secretos".
Na sexta-feira, a cadeira televisiva norte-americana, NBC, informou, citando fontes dos serviços secretos norte-americanos, que a CIA (Central Intelligence Agency) tem a tarefa de apresentar opções à Casa Branca para uma operação "clandestina" e de amplo alcance cibernético contra o Kremlim, o centro de poder na Rússia.
Antigos funcionários dos serviços secretos adiantaram ainda que a CIA tinha reunido documentação com base na qual podem expor o Presidente russo.
Putin, por seu turno, advertiu que "sacrificar as relações russo-norte-americanas no actual curso da política interna dos Estados Unidos" é "prejudicial e contraproducente".
"Alguém quer uma confrontação, esta não é a nossa opção. Todavia, isso significa que haverá problemas, algo que não queremos. Pelo contrário, gostaríamos de encontrar pontos de contacto para resolver os problemas de carácter global que afectam a Rússia, os Estados Unidos e o mundo", disse.
O Chefe de Estado russo negou que o seu país tente influenciar a campanha presidencial norte-americana, algo que - explicou - não tem sentido, porque não se sabe se o Presidente que for eleito vai cumprir as promessas eleitorais.