21 out, 2016 - 14:09 • Marta Grosso com agências
Os bombardeamentos em Alepo, na Síria, constituem “crimes de proporções históricas”, defendeu esta sexta-feira o alto representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Na reunião convocada especialmente para debater a actual situação na Síria, Zeid Ra'ad al Hussein apelou ao Conselho de Segurança que aprove uma resolução que permita que o caso possa seguir para o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra.
O responsável não mencionou a Rússia – cujos aviões de guerra, em conjunto com a Força Aérea síria, têm levado a cabo vários ataques aéreos contra a zona de Alepo onde se encontram os rebeldes –, mas a mensagem ficou clara.
“Grupos da oposição armados continuam a lançar morteiros e outros projecteis para zonas civis da região oeste de Alepo, mas os bombardeamentos indiscriminados sobre a região leste da cidade, levados a cabo pelas forças do Governo e pelos seus aliados são responsáveis pela esmagadora maioria das mortes de civis”, afirmou Zeid Ra'ad al Hussein perante os membros do Conselho da ONU para os Direitos Humanos.
“As violações e abusos infligidos à população síria por todo o país, incluindo o assalto e bombardeamentos a Alepo, não são simples tragédias. Constituem crimes de proporções históricas”, afirmou.
Hospitais bombardeados
Posição idêntica foi defendida pelo representante britânico, Tobias Ellwood, que não se coibiu de apontar o dedo a Moscovo.
“Hospitais têm sido repetidamente bombardeados, centenas de civis – muitos deles crianças – têm sido mortos desde que o regime de Assad e os seus aliados russos lançaram o assalto a Alepo. Rússia, vocês estão a piorar a situação e não a resolvem”, acusou.
“Recentemente, os membros do Conselho de Segurança tentaram tomar acções no sentido de apoio o povo sírio, mas foram bloqueados pela Rússia, que, uma vez mais, exerceu o seu direito de veto. Isto é uma vergonha. Não é esta a acção ou a liderança que devemos esperar de uma nação que integra o grupo dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança”, condenou também.
De acordo com o representante norte-americano, Ted Allegra, o assalto a Alepo já matou 400 pessoas, incluindo 100 crianças. “Estes actos chocantes imploram por uma investigação apropriada e pela responsabilização daqueles que os cometem”, defendeu.
O embaixador da Ucrânia, Yurii Klymenko, comparou a situação com o que se passou na capital tchetchena. “Estamos a assistir a uma nova Grozny”.
Da parte da Rússia, o diplomata Alexey Borodavkin acusou o Reino Unido e os seus aliados de “tentar proteger os terroristas, permitindo-lhes que se reagrupem e mantenham os seus actos bárbaros”.
Durante o cessar-fogo de 11 horas em Alepo, acusou, os aliados permitiram que “civis e rebeldes deixassem a cidade”.
Por fim, o presidente da comissão de inquérito das Nações Unidas para a Síria, Paulo Pinheiro, garantiu o grupo vai continuar atento aos crimes de guerra cometidos em Alepo e apelou ao Presidente Sírio, Bashar al-Assad, que providencie informações sobre as violações cometidas.