25 nov, 2016 - 00:42 • José Pedro Frazão
O antigo primeiro-ministro francês François Fillon surpreendeu os analistas e os centros de sondagem e avança no próximo fim-de-semana para a segunda volta contra Alain Jupée. Também Santana Lopes e António Vitorino falam num resultado inesperado.
"Pensei de facto que as sondagens estavam certas e que o vencedor seria Alain Jupée. Ele não terá já hipóteses de ganhar a segunda volta. A primeira volta consolida o senhor Fillon", admite António Vitorino no programa "Fora da Caixa". O antigo comissário europeu reconhece que Fillon não é um político carismático, mas mostrou ter mais energia que Alain Jupée, que descreve como "um político muito clássico, bastante arrogante, bastante "francês".
No plano económico, por paradoxal que pareça, Fillon é comparado por Vitorino a Nicolas Sarkozy, na versão de 2008. " Tem uma ideia muito firme de uma política económica bastante mais liberal do que o normal da política francesa à direita", observa o antigo ministro socialista.
Para Pedro Santana Lopes, Fillon não desperta especiais simpatias tal como acontecia com Sarkozy ou Jupée. "Não me diz nada de especial mas pode vir a ser um "caso". E a vida está para as surpresas eleitorais, para ganhar quem não se espera ou vem de fora. O senhor Fillon não vem de fora, foi primeiro-ministro, tem muito tempo na vida política, mas não estava no primeiro lugar do pódio", acrescenta o antigo primeiro-ministro na Renascença.
Cisma na esquerda francesa
O socialista António Vitorino considera que Alain Jupée teria mais facilidade em congregar o voto à esquerda num eventual combate final entre dois candidatos para a Presidência de França. Mas Fillon poderá bem ocupar esse espaço se não houver candidatos de esquerda em liça.
"Admitindo que numa segunda volta, estará a senhora Le Pen e o candidato de centro-direita - provavelmente Fillon - acredito que Fillon vai poder congregar o voto daqueles que querem barrar o caminho a Le Pen", afirma Vitorino. O socialista concorda com Pedro Santana Lopes sobre um eventual ganho eleitoral que decorra de uma recandidatura de Hollande. "A questão da função tem um certo magnetismo. Não subestimemos o significado da candidatura do presidente em funções. Hollande ganhou por uma unha negra em relação [ao então presidente] Sarkozy", assinala o antigo comissário europeu.
Vitorino admite que se François Hollande se recandidatar, o actual primeiro-ministro Manuel Valls não se apresentará eleições. O comentador que milita no PS reconhece que a esquerda está bastante fragmentada do ponto de vista político.
"Há um cisma na esquerda francesa em termos de programa político. Entre os anti-mundialistas de Mélenchon, os Verdes que se distanciaram dos socialistas e toda a extrema-esquerda, cada um terá o seu candidato", anota Vitorino, ciente ainda de mais duas candidaturas "mais ou menos centristas que podem baralhar um pouco o jogo".
O antigo ministro do PS refere-se ao avanço de Emmanuel Macron, antigo ministro da Economia " que corre em pista própria" e François Bayrou " que já disse que se Jupée não for o candidato dos republicanos, admite apresentar uma candidatura centrista".