14 dez, 2016 - 07:00
Cerca de cinco mil pessoas, entre militantes opositores e familiares, deveriam ter começado a abandonar Alepo esta quarta-feira de madrugada, mas, de acordo com as informações conhecidas, ainda não saiu qualquer autocarro do terreno.
O processo devia ter começado por volta das 3h00 (hora de Lisboa), mas o Observatório Sírio dos Direitos Humanos indica que uma hora depois ainda ninguém tinha deixado a parte Leste da cidade.
As razões são ainda desconhecidas. As forças aliadas não fizeram, até ao momento, qualquer comentário, mas fontes das forças rebeldes citadas pela agência Reuters garantem que o cessar-fogo se mantém.
O acordado era que o primeiro grupo de pessoas a sair de Alepo fosse com feridos. Vinte autocarros aguardavam a chegada dos civis com os motores ligados, segundo testemunhas citadas pelas agências, ainda não houve qualquer movimento.
A retirada destina-se, sobretudo, aos militares opositores ao regime. Os civis podem optar por ficar ou sair de Alepo. Muitos temem actos de vingança por terem apoiado publicamente a revolta.
Entretanto, a Rússia veio anunciar que saíram da cidade, nas últimas 24 horas, seis mil civis, entre os quais duas mil crianças.
Segundo o Ministério russo da Defesa, citado pela agência russa Interfax, 366 rebeldes largaram as armas durante o mesmo período.
França pede presença da ONU
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros afirmou esta quarta-feira que a evacuação da parte Leste de Alepo está uma grande confusão e apelou, por isso, ao envio de observadores das Nações Unidas para o terreno para monitorizarem o processo.
“A França quer a presença de observadores da ONU no terreno e a intervenção de organizações humanitárias como a Cruz Vermelha”, afirmou Jean-Marc Ayrault à televisão France 2.
As Nações Unidas já tinham afirmado, ao início da madrugada, que “não estava envolvida” nos planos de retirada de militares e civis, mas estava disponível para ajudar no processo.
As condições para a saída de pessoas de Alepo só ficaram garantidas depois de um acordo de cessar-fogo, anunciado na terça-feira depois da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na qual Reino Unido e França exigiram o envio de observadores internacionais para o terreno.
Horas mais tarde, funcionários da ONU citados pela Reuters, davam conta de fuzilamentos sumários de cerca de 82 civis, incluindo mulheres e crianças, por parte das forças do regime. Estas informações não foram, contudo, confirmadas oficialmente.
O porta-voz das Nações Unidas falava em pessoas mortas na rua e até nas suas casas, enquanto tentavam fugir. O Exército sírio já desmentiu estas informações e a Rússia garante que as forças rebeldes usaram 100 mil pessoas como escudos humanos.
O acordo de cessar-fogo pôs fim a anos de combates na cidade e deu ao líder sírio a sua maior vitória – um sucesso também reclamado pela Rússia.
Ao tomar o controlo total de Alepo, Bashar al-Assad provou o poder da sua aliança militar, apoiada pela força aérea russa e milícias xiitas da região.
Mas Assad está ainda longe de reconquistar toda a Síria. Vastas áreas do país mantêm-se nas mãos de grupos armados, incluindo o Estado Islâmico, que esta semana conseguiu recuperar do exército sírio a cidade deserta de Palmira.