11 jan, 2017 - 16:16
A nove dias de tomar posse, o Presidente eleito norte-americano admitiu esta quarta-feira o envolvimento da Rússia no caso de pirataria informática à convenção democrata (DNC), que levou à polémica divulgação de e-mails de Hillary Clinton, que marcou a campanha presidencial.
“Acho que foi a Rússia, mas também somos pirateados por outros. Há muita pirataria por aí”, disse Donald Trump na sua primeira conferência de imprensa do ano e a primeira aberta a perguntas desde Julho de 2016.
“A DNC estava aberta à pirataria”, acrescentou. “[Os piratas] Tentaram fazê-lo connosco [Partido Republicano], mas não conseguiram", disse Trump, que promete acção contra futuras interferências externas: “Temos algumas das melhores mentes informáticas do país, vamos juntá-las e criar uma defesa."
Falando de si próprio na terceira pessoa mais de que uma vez, o Presidente eleito acrescentou: “Se Putin gosta de Donald Trump, considero isso uma mais-valia e não uma desvantagem.” E reforçou: “Eles [a Rússia] vão ajudar-nos a lutar contra o Estado Islâmico. O que não é pêra doce. Se o Putin gosta de Donald Trump, isso é óptimo, pessoal.”
Numa tentativa de marcar a fronteira entre o magnata e o chefe de Estado, e apesar da admissão do alegado envolvimento directo russo na campanha eleitoral, o Presidente eleito quis ainda sublinhar reiteradamente a sua isenção face à Rússia.
“Não tenho negócios com a Rússia. Não tenho empréstimos com a Rússia. Não tenho ligações empresariais com a Rússia. Podia ter, mas não tenho, porque acho que isso seria um conflito de interesses”, declarou.
Relatório é "porcaria" feita "por pessoas doentes"
A CNN noticiou que os serviços secretos dos Estados Unidos entregaram a Trump e a Barack Obama, na passada semana, um relatório que denunciava que a Rússia teria informações pessoais e comprometedoras sobre o Presidente eleito dos EUA. O conteúdo do suposto relatório não foi divulgado pela CNN, mas o site BuzzFeed News publicou-o na íntegra.
A publicação desse documento de duas páginas, com informação não confirmada, é uma “vergonha absoluta”, classificou Trump. "Essa porcaria foi feita por pessoas doentes."
Momentos antes de Trump tomar o palco, o porta-voz do Presidente eleito enfrentou o caso de cabeça, afirmando que a publicação do suposto relatório é uma "triste e patética tentativa de conseguir cliques".
A existir, o relatório demonstraria uma jogada por parte dos serviços secretos russos para conseguirem informação comprometedora sobre o Presidente eleito, que seria, mais tarde, usada para o controlar politicamente.
Donald Trump apontou que o Presidente russo declarou esta quarta-feira que o documento é falso. “Putin disse que aquilo nunca aconteceu. OK, ele diria isso de qualquer maneira, mas eu respeito o que ele diz”, afirmou. “Se eles tivessem alguma coisa [de interessante] teriam divulgado, tal como fizeram com a Hillary.”
Vulnerabilidade à chantagem?
Voltando, mais uma vez, ao relatório, o Presidente eleito, num tom que foi se foi tornando cada vez mais acintoso à medida que ia sendo questionado pelos jornalistas, respondeu a uma pergunta sobre se teme a sua própria “vulnerabilidade à chantagem”.
“Sou uma pessoa ‘high profile’ (importante), não diriam? Eu digo sempre ao meu pessoal, tenham cuidado nos vossos quartos de hotel. Espero que se portem bem à mesma, mas digo a toda a hora, tenham cuidado nos vossos quartos de hotel”, arrogou.
“Já agora, também sou bastante misófobo”, disse, provocando uma gargalhada geral. Um misófobo é algum que tem medo patológico de germes e contaminação, e Donald Trump já tem essa fama há algum tempo, segundo a imprensa norte-americana. O documento polémico fala em actos que, a serem verdade, iriam directamente contra essa sua característica.
Mudando de assunto e passando por temas como a separação de interesses entre os negócios da família e a Presidência, o muro com o México (que é para avançar de imediato, garantiu) ou o seu dom para criar empregos, Donald Trump gerou um momento de grande exaltação na sala na altura em que o repórter do Buzzfeed News lhe tentou colocar uma questão.
“Quiet”, disse, repetidamente – o equivalente a dizer “chiu”, em português. “És um malcriado, não te respondo. Vocês dão notícias falsas”, atirou, visivelmente alterado.
Logo de seguida, respondeu a outros representantes da comunicação social, já mais calmo. “Peço moral e ética aos jornalistas. Peço um jornalismo honesto. Já vi pessoas a serem destruídas pelos média.”
"New York Times" e WikiLeaks arrasaram credibilidade do relatório
A veracidade deste suposto relatório não foi comprovada por qualquer entidade, da imprensa aos serviços secretos norte-americanos. O próprio WikiLeaks contesta a sua credibilidade. O jornal “The New York Times” descredibiliza o documento e diz ainda que o mesmo já era do conhecimento geral entre políticos e jornalistas em Washington, o que leva a questionar o momento da sua divulgação.
Donald Trump já tinha reagido no Twitter, esta quarta-feira de manhã: “Notícias falsas – uma total caça às bruxas política!”, disse. Seguiu-se outro “tweet”, horas depois: “Os serviços de informação nunca deviam ter deixado sair estas notícias falsas para o público (…) Estamos a viver na Alemanha nazi?”.