31 jan, 2017 - 22:48
O secretário-geral da ONU critica duramente a ordem executiva de Donald Trump que impede a entrada de cidadãos de sete países muçulmanos nos Estados Unidos, afirmando que tais medidas "cegas" arriscam ser "ineficazes" na luta antiterrorista.
Os países "têm o direito, mesmo a obrigação, de controlar as suas fronteiras para impedir a entrada de membros de organizações terroristas", referiu António Guterres, num comunicado divulgado esta terça-feira.
Mas, segundo frisou o secretário-geral das Nações Unidas, as medidas adoptadas "não podem ter como base qualquer forma de discriminação em função da religião, origem étnica ou nacionalidade".
Tal discriminação "desencadeia uma ansiedade e uma raiva generalizadas que podem facilitar a propaganda das organizações terroristas que todos queremos combater", prosseguiu Guterres.
"Medidas cegas, não fundamentadas numa inteligência sólida, tendem a ser ineficazes pois correm o risco de serem ultrapassadas pelos atuais sofisticados movimentos terroristas globais", reforçou o representante.
Na sexta-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que suspende a chegada ao país de todos os refugiados por um período mínimo de 120 dias - para os refugiados sírios o prazo é indeterminado -- e que impede a entrada nos Estados Unidos durante três meses aos cidadãos de sete países de maioria muçulmana: Iraque, Irão, Iémen, Líbia, Somália, Sudão e Síria.
A ordem executiva surgiu no âmbito de um pacote de medidas para proteger o país de "terroristas islâmicos radicais".
A decisão de Trump desencadeou protestos com milhares de participantes e o caos em vários aeroportos americanos.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o jordano Zeid bin Ra'ad Zeid al-Hussein, declarou que a medida de Trump era ilegal, classificando-a como "mesquinha".
Na segunda-feira, em Adis Abeba (Etiópia), onde participou na abertura da cimeira da União Africana (UA), António Guterres recordou que os Estados Unidos têm "uma grande tradição" de protecção de refugiados e disse esperar "firmemente" que esta volte a ser uma das prioridades do governo de Donald Trump.
"A protecção dos refugiados deve ser garantida. O acesso dos refugiados a um lugar onde estejam seguros é extremamente importante", disse então o secretário-geral da ONU.
"Os Estados Unidos têm uma grande tradição na protecção de refugiados, espero que esta medida seja apenas temporária", acrescentou na mesma ocasião.