19 abr, 2017 - 21:03 • Carlos Calaveiras
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Jean-Luc Mélenchon, candidato de extrema-esquerda, é o “holograma surpresa” das eleições francesas do próximo domingo. Esta semana, o candidato da extrema-esquerda, apoiado pelos comunistas, surgiu com 22% das intenções de voto numa sondagem Scan/Le Terrain, atrás do independente Emmanuel Macron, mas à frente da candidata de extrema-direita Marine Le Pen.
Mélenchon anunciou a sua candidatura presidencial a 5 de Julho de 2015 e confirmou-a a 10 de Fevereiro de 2016, numa entrevista à TF1. Mas, até Março, Mélenchon não entrava nas contas dos analistas e as sondagens não lhe davam mais de 12% nas intenções de voto.
Agora, várias sondagens colocam-no em terceiro lugar, com uma votação a rondar os 20%, ou mesmo em segundo. Está tudo em aberto, especialmente tendo em conta que um terço dos 47 milhões de eleitores ainda está indeciso e outros 30% admitem não ir votar.
A prestação nos debates televisivos deu ao candidato uma força que já obrigou o actual Presidente François Hollande a aparecer na campanha para dizer que Jean-Luc Mélenchon “é um perigo para a França”.
Mélenchon, de 66 anos, nasceu em Tânger, Marrocos, e mudou-se para França aos 11 anos. É divorciado e pai de uma filha, mas recusa falar da sua vida privada.
É formado em Filosofia (como Emmanuel Macron), já foi ministro de um governo PS (como Emmanuel Macron), candidato às eleições presidenciais de 2012 (como Marine Le Pen) e eurodeputado (como Marine Le Pen). Formou o Partido de Esquerda e a coligação Frente de Esquerda (uma espécie de Bloco de Esquerda em Portugal) e é professor de profissão, mas também já foi jornalista.
Este veterano da política francesa já passou por vários partidos, apostando em reinventar-se para mostrar o seu programa político ao maior número de pessoas. Nesta terça-feira, fez um comício simultâneo em sete cidades. Como? Com hologramas. Não foi a primeira vez que usou este recurso virtual para fazer política real.
A esmagadora maioria da sua equipa (80%) são jovens voluntários e uma das novidades da sua campanha é um jogo de computador em que Mélenchon é uma espécie de “Robin dos Bosques” que “abana” todos os que roubaram a França e recupera o dinheiro dos contribuintes.
Agora volta a tentar chegar ao Palácio do Eliseu, quer melhorar os 11,1% conseguidos há cinco anos e já há quem ache que pode mesmo chegar à segunda volta de dia 7 de Maio. Lidera o movimento “França insubmissa” que, diz, “são todas as pessoas que resistem e não se rebaixam, são os sindicalistas que se batem para defender o emprego. A França insubmissa vai do indivíduo à Nação. Quero encarnar a rebelião e a insubmissão necessária para fazer nascer um mundo novo e derrubar a casta de privilegiados, abolir a monarquia presidencial e defender os nossos interesses diante dos tratados europeus”, referiu em entrevista ao jornal “Diário da Manhã”.
O que defende
O candidato presidencial, que se qualifica de “socialista republicano”, quer “juntar toda a esquerda à sua volta”, defende uma renegociação completa dos tratados europeus e admite a saída da União Europeia, se não conseguir lutar contra as políticas de austeridade, mas já não tem dúvidas que a França deve deixar a NATO, o FMI e a Organização Mundial do Comércio. É antiliberal e anticapitalista e defende aquilo que chama de “revolução cidadã”, teoria explicada no seu mais recente livro “A era do Povo”.
Na opinião de Jean-Luc Mélenchon, os cidadãos devem dar opinião constantemente em referendos e considera que no novo Parlamento não deve estar nenhum deputado da 5ª República (ou seja, dos últimos 55 anos).
“O povo é quem deve definir as regras da política. A constituição actual foi modificada 21 vezes sem o consentimento directo do eleitor. A crise social é em parte devido à crise política e uma nova constituição pode ser o remédio contra a grave crise actual”, disse em entrevista ao “Diário da Manhã”, do Brasil.
O jornal económico “Les Echos” já descreveu Mélenchon como “o novo risco de França”, já que quer aumentar a despesa pública e aumentar para 90% os impostos a quem ganhe mais de 400 mil euros.
Quer subir o salário mínimo e o salário dos funcionários públicos. Ao mesmo tempo, defende um salário máximo e acredita que chegará ao pleno emprego.
Jean-Luc Mélenchon defende o desmantelamento das instalações nucleares e acredita ser possível viver com energia 100% renovável. Considera que 50% da dívida pública é ilegítima e, por isso, não deve ser paga.
Uma das apostas do seu programa é a educação – que quer gratuita dos três aos 18 anos – mas também a ciência e a cultura.
Quanto à crise dos migrantes, Mélenchon considera que o problema não se soluciona apenas com o acolhimento de refugiados. Deve também tentar resolver-se as causas que levam as pessoas a sair e muitos deles a fugir dos seus países. Não é "impedir as pessoas de chegar", é dissuadi-las de partir. "Claro que somos a favor de acolher refugiados, não podemos atirá-los ao mar". Os trabalhadores sem papéis devem ser legalizados, tal como os que têm filhos a estudar, acrescenta.