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Fora da Caixa

António Vitorino. “Saída do euro pode assustar eleitores de Le Pen”

23 abr, 2017 - 15:35

A ingovernabilidade, o peso da abstenção, a desagregação nos socialistas e o medo dos radicalismos são chaves de análise das eleições presidenciais francesas, debatidas na Renascença por Pedro Santana Lopes e António Vitorino.

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O antigo comissário europeu António Vitorino acredita que Marine Le Pen pode ter assustado os descontentes que poderiam votar na candidatura da Frente Nacional, ao propor uma saída imediata da moeda única.

“A partir do momento em que ela colocou a questão da saída do euro, de uma forma muito brutal, isso assustou as pessoas que estariam disponíveis para votar nela mas têm medo do caos que seria a saída do euro. A ironia que pressinto é que a pertença ao euro será o principal factor que leva alguns descontentes que poderiam votar Le Pen a refrearem-se de votar Le Pen com medo do caos que poderia provocar a sua vitoria no caso da França acaba por sair da União Europeia e do euro”, argumenta Vitorino assumindo esta tese como um pressentimento ainda por comprovar em estudos.

O ex-ministro da Defesa admite que tudo pode acontecer este Domingo em França. “Há uma enorme desorientação na sociedade francesa. Não me lembro de uma eleição francesa ter chegado às vésperas das eleições com mais de 30% das pessoas indecisas, com diferenças de 2% nas sondagens, falem verdade ou mentira”, comenta no programa “Fora da Caixa”.

Sem governos no bolso

Já Pedro Santana Lopes pressente novas surpresas com o comportamento das sondagens e admite que o candidato de centro-direita François Fillon pode ser uma carta decisiva na segunda volta.

“Se ele passasse à segunda volta, Fillon poderia mesmo ganhar as eleições. Aí ganharia uma embalagem e ele não está assim tão distante. Surpreendeu-me como ele se “aguentou nos 19%, quase dentro da margem de erro”, diz Pedro Santana Lopes.

O social-democrata acredita que Le Pen pode pagar por um excesso de “incógnitas em pontos nevrálgicos” afectando o próprio eleitorado da candidata da extrema-direita. “O mundo tem medo porque não sabe o que é o senhor Trump, não sabe o que é a senhora Le Pen”, afirma Santana Lopes.

O espectro da ingovernabilidade é também um factor para análise dos comentadores do “Fora da Caixa”.

“Ganhe quem ganhar, não há um governo óbvio que um candidato traga no bolso com maioria. Se Fillon está com dificuldades para passar à segunda volta, manifestamente não serão os republicanos que terão condições para garantir um Governo. Melenchon não tem um governo possível. A senhora Le Pen não tem um governo possível. Macron vai estar em igualdade de circunstância com os demais. Vamos ter que descobrir a composição partidária um mês depois, porque há legislativas em Junho. É a terceira volta, nos destroços de todas as formações políticas. Estão todas de rastos, essa é que é a verdade”, analisa António Vitorino.

Macron e o problema dos socialistas

A emergência de Emanuel Macron como candidato desafiador de Le Pen marcou a primeira parte da campanha presidencial francesa.

“Le Pen perdeu o monopólio da ‘mudança’ quando apareceu Macron. Macron é de facto um “cromo” fora do baralho”, diz António Vitorino. O antigo ministro de Hollande recebe uma parte do eleitorado tradicional dos socialistas franceses, que também fugiram para a extrema-esquerda.

“ A subida de Melenchon de algum sitio havia de vir. Manifestamente uma parte do eleitorado socialista, mais à esquerda mais radical, foi canalizado para Melenchon. É um eleitorado jovem, o que não deixa de ser significativo”, analisa o antigo ministro do PS, para quem é excessivo dizer que o Partido Socialista francês vai desaparecer.

“Vai fazer uma longa travessia no deserto. Esta divisão nas candidaturas presidenciais vai acabar por ter efeitos. Alguns vão sair, Valls não vai voltar ao Partido Socialista. Não será também Hamon a fazer a reconstrução do partido socialista francês. Terá que aparecer uma terceira personalidade a fazer isso, aguardemos para ver quem ela é”, comenta Vitorino, que descarta uma desagregação semelhante ao partido socialista grego.

A minoria que decide

No quadro de incertezas, a segunda volta pode ser ainda mais complicada se a abstenção se mantiver nos níveis actuais.

“O drama da abstenção nas eleições francesas é a segunda volta. Na lógica republicana, na primeira volta escolhe-se e na segunda elimina-se. Os franceses já estão com dificuldades em escolher, imagine quando tiverem que eliminar. Aqueles que não tiverem o seu candidato na segunda volta, podem simplesmente eliminar os dois, não indo às urnas. Isso deixa numa minoria a decisão do próximo Presidente da República francês”, remata Vitorino.

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  • Eleitor
    23 abr, 2017 Lisboa 19:50
    Aqui está o que interessa... A opinião de um qualquer individuo (Com todo o respeito pela pessoa em si) que não será capaz de aceitar que Le Pen poderá a vir governar França. Se o eleitorado assim o decidir, tal como nos EUA, todos temos de respeitar a vontade do Povo, e não a de meia dúzia de intelectuais que "acham" que a vontade de uma maioria é errada, por não ser da sua ideologia. Este é o cancro que está a mais na Europa, onde a informação é deturpada e os merdia apoiam sempre quem lhes convém, e deitando abaixo os que não lhes dão tanto "jeito". O problema é que as pessoas, neste caso, os eleitores, já não lhes interessa a opinião de um qualquer. As pessoas querem resultados, e menos conversa de chacha.

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