27 mai, 2017 - 20:09 • José Pedro Frazão
Em quase todos os casos de terrorismo, as notícias enchem-se de pequenas notas que asseguram que, por um outro ilícito, alguns dos seus autores tinham ficha na polícia ou nos serviços de informação. Nalguns casos fazem mesmo parte de listas de jovens que estiveram recentemente em países onde o radicalismo ganhou raízes como a Síria, o Iraque ou a Líbia.
Salman Abedi, o autor do ataque que fez mais de duas dezenas de mortos numa sala de espectáculos em Manchester, era um desses recém-regressados de um país onde a Al-Qaeda ocupou os vazios de um poder outrora dominado pelo regime de Khaddafi. Ao todo há três mil jovens referenciados pelos serviços de informação europeus nessa lista de “jihadistas europeus”.
“Como é que é possível manter uma vigilância permanente sobre três mil pessoas? Sobretudo pessoas que têm esta tendência suicidaria que só entrando na cabeça delas é que se descobre se a têm ou não. Isto é tão horrível, tão irracional, tão impensável, tão inaceitável que é muito complicado prever alguma coisa deste género”, comenta o antigo comissário europeu António Vitorino no programa “Fora da Caixa”.
A monitorização destes jovens e das respectivas ligações “não garante que um tresloucado queira implodir-se”, diz Vitorino. O que se pode fazer mais? “Podemos tornar difícil que isso aconteça”, concede o antigo ministro da Defesa.
É preciso um “caminho novo” na segurança europeia
O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes pensa que talvez seja possível fazer mais, sem pôr em causa a presunção de inocência dessas pessoas que voltam de territórios onde o fundamentalismo tem dominado.
“Para além de referenciar, estaremos a fazer tudo o que poderia e deveria ser feito à luz dos princípios ?”, questiona-se o antigo líder do PSD, referindo-se me concreto aos jovens que vão e voltam de países do Médio Oriente. “Os serviços de informação estão em cima deles. Mas não sei se chega o que tem sido feito até hoje. Até porque os problemas têm vindo normalmente daí”, complementa Santana Lopes.
Para o antigo chefe de Governo, a Europa vai ter que encontrar “um qualquer caminho novo” na cooperação entre estados “ sucedânea da que acontece actualmente, por muitos passos que já tenham sido dados”. Santana Lopes anota que a sociedade europeia sente que “ o que há não chega e não sei se alguma vez chegará, seja o que for essa nova forma que seja encontrada”.
Alargar perímetros de segurança não resolve
Santana Lopes considera que este fenómeno representa “uma enorme dificuldade” para as polícias, consolidando a certeza de que “as nossas sociedades vão ter cada vez mais militares na rua num número cada vez mais crescente a patrulhar postos-chave”, vivendo num estado próximo ao de emergência.
No plano concreto, António Vitorino alerta que a lógica de alargamento de perímetros de segurança não funcionará porque “impede a vida em comum”. No caso de Manchester, diz o comentador da Renascença, as forças de segurança não podem ser acusadas de não terem tomado medidas.
“É como sucedeu com o atentado no aeroporto de Bruxelas. Hoje não se entra na gare do aeroporto de Bruxelas sem passar por um controlo de segurança. Antigamente esse controlo de segurança só ocorria mais tarde, já depois do check-in. Mas a verdade é que a 200 metros da gare não há controlo de segurança porque não pode haver sucessivos controlos de segurança. É o caso da Arena de Manchester”, exemplifica Vitorino no programa “Fora da Caixa”.