14 jun, 2017 - 06:18
A Torre Grenfell, um edifício de 24 andares e 120 apartamentos em Londres, está em chamas desde o início da madrugada desta quarta-feira. Há, pelo menos, 12 mortos, mas a polícia acredita que o número ainda venha a aumentar.
Segundo o serviço de ambulâncias da cidade, há registo de 74 feridos, 20 dos quais em estado grave.
A maioria dos feridos (64) foi transportada de ambulância para seis hospitais da cidade e 10 pessoas procuraram assistência médica pelos seus próprios meios.
“É provável que este número vá aumentar durante as complexas operações de
busca que se irão prolongar por alguns dias. Muitas outras pessoas estão a receber
assistência médica”, disse o comandante Stuart Cundy, da Polícia
Metropolitana de Londres.
Três famílias de portugueses residiam no prédio e já foram contactadas pelo consulado, diz a cônsul-geral de Portugal na capital britânica à agência Lusa. Duas crianças estão internadas, mas fora de perigo.
Segundo Joana Gaspar, há ainda dois outros portugueses que também viviam no prédio e que se encontram bem.
Cenário dantesco
O fogo começou no segundo andar e tomou toda a torre. O cenário é descrito como dantesco e não se sabe se ainda há pessoas no interior, retidas.
Ruks Mamadou está num centro de evacuação em Kensington e residia no edifício. Esta manhã, à Sky News, admitia ser “bem possível que haja pessoas ainda retidas no edifício, porque quando nós saímos, as escadas estavam já cheias de fumo”.
“Se não conseguiram ir até aos elevadores e se não há sítio por onde fugirem, claro que estão mortos”, acrescentou.
Nos andares mais cimeiros, ouvem-se pessoas a gritar e há relatos de quem se tenha atirado das janelas. Uma mãe atirou o filho pela janela, na esperança de o conseguir salvar das chamas, e conseguiu que ele fosse salvo. Também se ouviram vidros a partir e algumas explosões.
O fogo deflagrou à 1h15 e, segundo afirmou uma testemunha à Sky News, os alarmes de incêndio da torre só dispararam meia hora depois de o fogo ter começado. Este morador do edifício acrescenta que foi um vizinho que lhe bateu à porta para o alertar para o que estava a acontecer.
O mesmo descreve uma outra testemunha. “Não fui acordado por quaisquer alarmes. Se tocaram, foi muito baixinho. Eu estava na cama, quase a adormecer, quando me cheirou a plástico queimado. Levantei-me, percorri a casa, verifiquei as tomadas, estava tudo bem. Fui à cozinha para fumar um cigarro, abri a janela e ouvi uma mulher gritar que estava a ficar cada vez maior. Sai para o corredor, procurei a boca-de-incêndio, mas estava tudo cheio de fumo. Abri a porta de acesso às escadas e estavam lá alguns vizinhos. Pessoas a gritar, bombeiros a gritar para que nos deitássemos no chão. Tenho uma menina, peguei nela e na minha namorada, saímos de casa como estávamos – eu de 'boxers' e elas de camisa de dormir. Alguém me deu estas roupas que tenho vestidas. E foi isto. Estamos aqui”.
A polícia indica que várias pessoas receberam tratamento por inalação de fumos e mais de 70 pessoas foram levadas para seis hospitais da capital britânica.
Muitas pessoas, vizinhas do edifício em chamas, estão a ajudar quem saiu de casa apenas com a roupa no corpo. A Igreja de St. Clement e St. James, próxima do local, abriu as portas para acolher os desalojados. No terreno está também a Cruz Vermelha.
Na rua, uma adolescente de 17 anos procura a família. A polícia londrina emitiu, entretanto, um comunicado a pedir que todos quantos queiram informações sobre as pessoas que residem ou trabalham no edifício contactem o “Casualty Bureau” (0800 0961 233 ou 0207 158 0197).
A Metropolitan Police adianta que a estrada A40 está fechada em todas as direcções e agradece a paciência e a colaboração de todos na resolução desta tragédia.
Moradores preocupados em 2014
Desconhece-se ainda as causas do incêndio. A Torre Grenfell, situada numa zona próxima de Notting Hill, foi recentemente remodelada, tendo sido substituídas as condutas de gás, e havia alguma apreensão em relação aos acessos restritos para veículos de emergência.
Em Agosto de 2014, a associação de residentes Grenfell Action Group já mostrava preocupações em relação ao risco de incêndio no prédio depois das obras de melhoramento.
Num e-mail que a associação fez chegar aos bombeiros londrinos falava-se no risco do edifício se tornar um edifício sem as condições necessárias para ser evacuado em caso de incêndio. Já em 2016, no mesmo blogue, o grupo voltava a denunciar a falta de condições de segurança e acusava a administração do edifício de ser uma “minimáfia”.
A primeira-ministra, Theresa May, já emitiu um comunicado sobre a tragédia desta quarta-feira. May convocou uma reunião de emergência do Governo para analisar o caso. No comunicado lamenta ainda a perda de vidas neste incêndio.
Por causa deste incidente, foram adiadas as negociações com o Partido Unionista da Irlanda do Norte, tendo em vista uma coligação que permita formar governo, após as eleições de 8 de Junho.
[Notícia actualizada às 13h10]