24 jul, 2017 - 19:50 • José Pedro Frazão
O antigo ministro socialista António Vitorino não vê solução nas " sucessivas fugas para a frente" de Nicolas Maduro na crise política e económica que e vive na Venezuela. No programa "Fora da Caixa" da Renascença, Vitorino defende que " o estertor de um regime com estas características, quando é lento, é sempre ainda mais doloroso".
Para complicar, argumenta o antigo ministro da Defesa, as Forças Armadas da Venezuela "não são exactamente iguais às Forças Armadas de outros países da América latina – que tiveram no passado um histórico de intervenção militar".
Já Pedro Santana Lopes lembra a concentração de poderes que apoiam o actual Presidente da Venezuela. "Maduro tem as Forças Armadas e o Órgão Judicial Supremo em comissão de eleições a decidirem no sentido em que lhe interessa. Vai ser uma luta dura, não sei se longa, do povo venezuelano", prevê o antigo primeiro-ministro.
Os pobres de Chavez aguentam Maduro
António Vitorino assinala ainda que os apoiantes do actual regime foram os beneficiados de algumas políticas implementadas por Hugo Chavez.
"Há um legado de Chávez, só que Chávez já cá não está. Se esse legado é bom? Se quisermos ver as coisas do ponto de vista económico, há que dizer que ele tirou muitos milhões de pessoas da pobreza mais profunda. São esses pobres que hoje mais sofrem, mas que ainda estão a sustentar um regime que manifestamente hoje já tem a rejeição da maioria da população. Mas, ainda há um núcleo da população venezuelana que apoia Maduro, não tenhamos a menor dúvida sobre isso", observa o antigo ministro da Defesa.
Intervenção externa pouco provável
O comentador socialista não encontra possibilidades de mediação no conflito aberto na Venezuela.
"Maduro está bastante isolado. Houve Cuba. Se Cuba ainda tivesse Obama na Casa Branca, talvez se pudessem estabelecer canais de mediação. Agora, com o Presidente Trump, Cuba está completamente fora do circuito. Nenhum país da América latina tem relação. Nem a Colômbia, nem o Brasil, nem a Argentina, nem o Uruguai têm uma relação facilitada com Maduro. Talvez tenha o apoio da Bolívia, mas a Bolívia não é verdadeiramente um caso de credibilidade como mediador", afirma António Vitorino.
Pedro Santana Lopes acredita que nesta fase compete ainda aos venezuelanos resolver a crise aguda a que assistimos.
"Têm que ser eles a resolver isso internamente, com a solidariedade forte prestada por quem está de fora. De resto, não vejo hipótese. Outra fase será mesmo uma guerra civil. Aí as posições sobre o que deve haver de intervenção ou não podem mudar", remata o antigo presidente do PSD.