15 ago, 2017 - 09:00 • José Carlos Silva
A aventura da sonda Cassini pelo Universo está a chegar ao fim e, se tudo correr bem, não vai sobrar nada. Em entrevista à Renascença, o professor no Instituto Superior Técnico, Mário Lino da Silva, explica porquê.
A Cassini entra esta terça-feira no último mês em órbita. Nos últimos anos, a sonda estudou Saturno e os anéis e também Titã, uma das luas do planeta.
A missão Cassini–Huygens, da NASA e da Agência Espacial Europeia, está activa há mais de uma década e permitiu descobrir um lago de metano em Titã.
O professor no Instituto Superior Técnico, Mário Lino da Silva, participou nos cálculos que permitiram a reentrada da cápsula Huygens na atmosfera deste satélite de Saturno. Em entrevista à Renascença, explica a importância desta missão para a exploração espacial.
Já chegaram ao planeta Terra as muitas fotografias tiradas nesta missão?
Sim, chegam à velocidade da Luz, demora apenas algumas horas. Mas depois, há uma série de tratamentos de imagem que têm de ser feitos ainda. As imagens vão sendo apresentadas ao público aos poucos. As imagens chegam rapidamente, mas depois é preciso estudar e retrabalhar as imagens antes que estejam disponíveis.
E que conclusões se podem tirar das imagens que já foram tratadas?
Conclusões já há muitas, porque esta missão está activa desde 2005. Já se descobriu muito sobre Titã. Por exemplo, já se descobriu que Titã tem apenas lagos de metano e não um grande oceano como se pensava no início e sobretudo nos pólos. Estas últimas imagens são apenas um pequeno extra, digamos que são a cereja em cima do bolo. Porque o grosso da missão, os objectivos já foram atingidos ao longo dos mais de dez anos que já durou, o que é notável.
Esta cápsula está cada vez mais perto do planeta Saturno. O que vai acontecer agora?
Geralmente, neste tipo de missões, pretende-se que no final as sondas se despenhem nos planetas, neste caso, Saturno. Porquê isto? Porque apesar de haver regras muito restritas de esterilização destas sondas para evitar a contaminação de outros corpos do sistema solar com elementos biológicos da Terra, nunca se pode ter a certeza absoluta que não há bactérias ou vírus que tenham escapado à esterilização.
Então, por medida de precaução e para evitar deixar a sonda em órbita, ao longo de décadas e séculos - uma vez que poderia vir a despenhar-se num satélite como Titã e talvez contaminar esse corpo celeste - é melhor que a sonda se despenhe em Saturno. Ou seja, é preferível que entre na atmosfera deste planeta e que arda completamente para se ter a certeza que a terra não estará a poluir outros planetas. Imaginemos que existe vida noutros planetas, talvez as bactérias terrestres pudessem o colonizar e fazer desaparecer essa vida autóctone.