25 ago, 2017 - 09:14
O director do Programa Alimentar Mundial alerta para o que considera ser a maior crise humanitária em 70 anos, com mais de 20 milhões de pessoas no Iémen, Somália, Sudão do Sul e Nigéria em risco de fome.
“Uma fome é uma situação rara. Quatro países à beira de fome ao mesmo tempo? Nunca se ouviu falar. Enfrentamos a maior crise humanitária em 70 anos, com 20 milhões de pessoas perto de morrer à fome em quatro países”, disse David Beasley em entrevista à agência Lusa.
O americano, que foi nomeado para o cargo pelo secretário-geral, António Guterres, em Março deste ano, diz que a situação mais grave acontece no Iémen, onde perto de sete milhões de pessoas são incapazes de sobreviver sem algum tipo de ajuda alimentar.
“O país está à beira de colapso total. A má nutrição entre as crianças está a níveis altíssimos, impedindo uma geração inteira de alcançar todo o seu potencial. O sistema financeiro está em ruínas e grandes áreas do sector público, incluindo milhares de funcionários de saúde, não recebem os seus salários há quase 10 meses”, explica.
Além da fome, o responsável diz que um surto de cólera tem atravessado o país, infectado milhares de pessoas e causando a morte de outras centenas.
“O surto está quase fora do controlo, com o sistema de saúde praticamente sem funcionar e o sistema imunitário de muitas pessoas enfraquecido devido a malnutrição desenfreada. Estive no Iémen no mês passado e vi crianças nos hospitais praticamente sem forças para respirar. A escala da tragédia é imensa e de partir o coração”, explica.
Além do Iémen, milhões de pessoas estão em risco de fome na Somália, no Sudão do Sul e na Nigéria. Beasley diz que a situação nestes países “infelizmente deve-se a conflitos provocados pelo homem."
“Em cada um destes países, facções em guerra têm posto a sua agenda à frente das pessoas. Guerra e violência devastam as vidas de milhões de pessoas, criando emergências de fome e doença a larga escala. Estes conflitos também dificultam o nosso acesso às pessoas que mais precisam, que estão frequentemente em áreas fora do nosso alcance”, diz o responsável.
O político, que serviu como governador da Carolina do Sul pelo partido Republicano, diz que “até líderes de todo o mundo colocarem mais pressão sobre estes países para acabar com estes conflitos, a miséria e sofrimento humano vão continuar” e que a comunidade internacional “não terá qualquer hipótese de atingir o seu objectivo principal: zero fome até 2030.”
“A minha mensagem é simples: não podemos simplesmente deixar pessoas morrer de fome no mundo de hoje. Juntos temos de agir para salvar vidas agora. Todos podem apoiar a luta contra a fome hoje, indo até ao site e fazendo uma doação que salva vidas”, conclui David Beasley.