12 nov, 2017 Estremoz 15:42
Não, este texto não visa discutir o problema da Catalunha. Sobre isso, prefiro escrever algo especificamente virado para o tema.
Este texto destina-se a tentar denunciar algumas das contradições em que caiem tantos e tantos comentadores, pouco importa a sua importância, ao quererem ligar a Catalunha e Olivença.
Primeiramente, há a destacar uma mudança de atitude. Quero eu dizer que ao silêncio sepulcral sobre a situação específica da questão oliventina, ou sobre novidades recentes ligadas a esse tema, e muitas delas bem surpreendentes são, se contrapõem agora citações quase diárias sobre Olivença, seja nos grandes jornais, seja nas redes sociais, produzidas, quer por anónimos ou gente pouco conhecida, quer por grandes e consagrados cronistas. O único problema é que são, quase sempre, despropositadas... ou baseiam-se nos aspetos mais preconceituosos sobre o tema, quando não caiem na ofensa, no humorismo fácil, ou num tom jocoso e depreciativo.
Onde têm estados todos estes "especialistas" quando, desde há meia dúzia de anos, se começaram a tornar notórios esforços culturais de recuperação do passado luso de Olivença, por parte dos autóctones (repito: dos autóctones), bem como de preservação da cultura portuguesa que ainda exista e que possa ser salva ou até revigorada? Onde estavam, repito, quando muitos e muitos oliventinos (centenas) começaram a pedir a nacionalidade portuguesa? Não vi nada escrito nem divulgado. Pude verificar que, em muitos casos, esse silêncio se devia a uma opção quase declarada pelo desprezo em relação aos factos!
Na verdade, o que se está a fazer em Olivença, porque feito de forma pacífica, sem carácter reivindicativo (não se põe o problema das razões, ou falta delas, do conhecido litígio sobre a legalidade da soberania espanhola em Olivença, mesmo porque esse é um problema a ser debatido entre os governos de Lisboa e Madrid, e de modo nenhum as organizações autóctones se querem meter nesse assunto), porque visando aquilo que é mais essencial (a salvaguarda duma cultura, a recuperação da Língua Portuguesa, o conhecimento da História), não tem, ou pouco tem, chamado a atenção dos "media", dos intelectuais, dos jornalistas, dos mais simples comentadores nas redes sociais.
Parece haver quem, em relação a estes temas, prefira a sensacionalidade do superficial, o efeito de impacto de pequenos detalhes, de preferência chocantes, à análise dum trabalho honesto, de fundo, consistente e orientado por critérios, digamos, mais profundos.
Pare-se de equiparar Olivença à Catalunha. Não há relação nenhuma! Há diferenças e intransponíveis! Resumindo: em Olivença, há todo um trabalho cultural, de fundo, que, para ser continuado e consolidado, precisa de ser cabalmente separado dum problema interno de um Estado (Espanha), em confronto com a vontade de alguns dirigentes duma região (a Catalunha), que pretendem separar-se desse Estado e formar uma nova entidade política. E repito: não há, por parte dos oliventinos, o desejo de reivindicar seja o que for que envolva problemas diplomáticos. Logo, o paralelo é abusivo. Pior: estabelecendo tais comparações, prejudica-se o labor dos próprios oliventinos, cujas intenções podem ser mal interpretadas.
Acima de tudo, há muita desinformação sobre este tema. Muito se agradecia que os inúmeros comentadores, profissionais ou amadores, se debruçassem sobre este tema começando por tentar saber o que se passa por Olivença de facto. E, claro, nunca o ligando ao problema da Catalunha. Muito menos com algum anti-espanholismo bacoco e pseudo-patrioteiro. Temos de nos convencer que a felicidade de um povo ou de um país não pode depender da infelicidade doutros povos ou doutros países!
Desejo que tudo se resolva. entre as autoridades de Barcelona e de Madrid, de forma pacífica e democrática, com respeito pelos direitos humanos e pela liberdade. Digo isto com a maior das sinceridades.
Renovo, no fim, o meu apelo: parem de buscar paralelos entre a Catalunha e Olivença!