19 set, 2017 - 09:58
A líder de Myanmar e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi falou pela primeira vez, esta terça-feira, aos seus compatriotas sobre a crise dos rohingya, numa mensagem também destinada à comunidade internacional.
Suu Kyi fez as primeiras declarações sobre a crise humanitária que afecta os muçulmanos rohingya em Myanmar (antiga Birmânia), declarando que "sente profundamente" o sofrimento de "todas as pessoas".
"Estamos preocupados após termos conhecimento do volume de muçulmanos que fugiram para o Bangladeche", disse Suu Kyi num discurso transmitido na TV estatal, no qual "condenou as violações dos direitos humanos e a violência ilegal", que podem ter exacerbado a crise.
"Estamos profundamente desolados com o sofrimento de todas as pessoas envolvidas neste conflito", declarou a líder birmanesa, citando tanto a minoria rohingya como a população budista que foge das suas vilas na zona do conflito.
"Não desejamos que Myanmar se divida entre crenças religiosas", explicou Suu Kyi, que tem sido criticada pela comunidade internacional devido ao seu silêncio diante da crise que envolve a minoria muçulmana no seu país.
No mesmo discurso, a dirigente birmanesa declarou que o seu país está pronto para verificar o estatuto dos 410 mil rohingya que fugiram do país, "para ajudar no retorno de quem tiver o direito de regressar".
Exército acusado de cometer abusos
No sábado passado, o Governo havia anunciado que não iria aceitar o regresso de todos aqueles que partiram, pois estes eram considerados cúmplices dos rebeldes rohingyas pelo estado.
No seu discurso desta terça-feira, vincou que a sua administração condena "todas as violações dos direitos humanos", ainda que não tenha feito qualquer crítica à acção do Exército — este é acusado de incendiar vilas e atirar contra civis rohingya.
Até agora, Suu Kyi tinha manifestado apoio incondicional ao Exército, acusado de cometer abusos sob a cobertura de uma operação antiterrorista. A ONU denuncia mesmo uma "limpeza étnica" iniciada há pelo menos três semanas, levada a cabo pelo Exército.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que cita o governo de Bangladeche, entre os cerca de 412 mil rohingya que fugiram para o seu território, há cerca de 70 mil mulheres grávidas ou que acabaram de dar à luz.
Em três semanas, criou-se um dos maiores campos de refugiados do mundo e as autoridades locais e ONG, que estão sobrecarregadas, lutam para ajudar os recém-chegados.
A rejeição aos rohingya, considerados estrangeiros ilegais em Myanmar, país cuja população é mais de 90% budista, é muito difundida entre a sua população.
Desde que a nacionalidade lhes foi retirada, em 1982, os rohingyas estão sujeitos a inúmeras restrições: não podem viajar ou se casar sem autorização, assim como também não têm acesso ao mercado de trabalho ou a serviços públicos (escolas e hospitais).