30 set, 2017 - 12:17
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A Catalunha vive horas de tensão com a aproximação do referendo sobre a independência da região. Madrid não aceita e a polícia tem ordem para travar o escrutínio sem usar violência. Mas os catalães querem mesmo votar e desde sexta-feira à tarde que ocupam as escolas e os colégios onde vão ser instaladas as assembleias de voto.
“O objectivo é resistir e passar esta noite para que amanhã o colégio possa abrir normalmente”, diz um cidadão à Renascença, adiantando que na altura em que a polícia (os Mossos d’Esquadra) chegarem ao local, lhes vai ser explicado o seu objectivo e depois se sentarão no chão para fazer “resistência pacífica”.
Uma outra catalã nem quer acreditar que possa haver violência. “Espero que não. Num Estado democrático é impensável que haja violência”, defende. O objectivo mantém-se, contudo: que haja votação. “Vamos fazer tudo para que as pessoas possam votar normalmente”, afirma.
Em duas escolas visitadas este sábado de manhã pela Renascença, o cenário é semelhante: muitas pessoas a jogar, a cantar, a tocar música e preparadas para dormir no local, com vista a resistir ao encerramento da secção de voto.
Polícia com ordem para evacuar locais de voto
A polícia irá retirar todas as pessoas que se encontrem nas assembleias de voto no domingo, anunciou este sábado fonte do Governo.
O modo como os locais irão ser evacuados será determinado pelos agentes, adiantou a mesma fonte, sem avançar mais detalhes.
Os voluntários que se encontrem nas mesas de voto e todos os que participem no referendo sujeitam-se a serem multados até 300 mil euros, afirmou ainda.
Esta manhã, a polícia de Madrid encerrou 1.300 das 2.315 escolas designadas como assembleias de voto. A votação está marcada para as 9h00, mas a polícia tem ordem para evacuar os locais e impedir que o voto logo a partir das 6h00.
Entretanto, a polícia espanhola também já ocupou o centro de comunicações do governo catalão. Fonte do governo regional citada pela agência Reuters revela que pelo menos quatro polícias entraram nas instalações e lá devem ficar durante os próximos dois dias, cumprindo a ordem do Supremo Tribunal, que mandou impedir o voto electrónico no referendo.
Foi ainda ordenado à Google que fechasse a aplicação que estava a ser usada para divulgar informações sobre a votação.
Esta operação continua, contudo, sem confirmação por parte da polícia ou o ministro espanhol da Administração Interna.
À agência Reuters, o líder catalão Carles Puigdemont garantiu, na sexta-feira, que o referendo se irá realizar no domingo.
“Está tudo preparado em mais de duas mil assembleias de voto”, afirmou.
Sim vs Não
“Gostaria de ter uma Catalunha independente da Espanha, porque nunca me senti muito espanhola. Nos últimos anos, com a maneira como o Governo de Espanha tem tratado os catalães, a minha posição tornou-se mais radical a esse respeito”, diz Elisabete à Renascença.
Esta catalã não acredita, contudo, que a independência esteja para breve. “Acho que muitas pessoas não irão votar, porque têm medo ou acham que a votação não é legal, e as que forem não vão conseguir votar, porque os colégios eleitorais vão estar fechados e a polícia vai lá estar”.
Elisabete espera que os meios de comunicação mostrem tudo o que se passar no domingo e que as imagens tenham a força suficiente para levar o Governo de Espanha a perceber que, um dia, terá de ouvir a voz da Catalunha.
Opinião diferente tem Jorge Medel. “Creio que para seguir em frente, temos de estar mais unidos do que nunca”, diz à Renascença, admitindo que não vai votar, porque seria participa numa ilegalidade.
O taxista catalão lamenta que a sociedade catalã esteja dividida e, sobretudo, que o tema já tenha levado a fracturas no seio de algumas famílias, onde pais e filhos “que não se falam porque têm opiniões diferentes”.
Haja ou não referendo, este catalão deseja apenas que não haja violência “nem por parte da polícia nem dos cidadãsos” – um desejo partilhado por todos os catalães, adeptos do “sim” ou do “não”.