26 out, 2017 - 09:14 • José Pedro Frazão
Habitualmente bem informado sobre os meandros da política europeia, o antigo comissário António Vitorino revela que a Catalunha é um assunto que está motivar conversações em privado no plano europeu, no sentido de um desfecho para a crise institucional criada em Espanha. No último programa "Fora da Caixa", o ex-ministro socialista assegura que há movimentações no plano europeu ligadas à situação da Catalunha.
" Há muitas conversas em curso que também envolvem obviamente os sectores independentistas catalães. São informais, nunca ninguém as reconhecerá, mas há conversas. O que se passa é que mesmo no universo de forças independentistas que existem em vários países europeus, esta corrida para a frente dos catalães está isolada. A única voz que exprimiu simpatia - mas não quanto ao processo - foi da primeira-ministra da Escócia. Todos os outros sectores independentistas, repare, nenhum deles saiu a terreiro a defender o bem fundado de uma declaração unilateral de independência", observa o comentador que agora se despede da Renascença após uma parceria de debate semanal durante 3 anos e 8 meses com Pedro Santana Lopes.
Ainda na análise à crise catalã, Vitorino anota que ambas as partes defendem a realização de eleições mas por motivos completamente opostos.
" Um dos passos fundamentais da aplicação do artigo 155 é a convocação de eleições. Se essa convocatória for feita pelo Governo de Madrid, está a convocar eleições autonómicas, dentro do quadro espanhol. O que os independentistas pretendem é que haja uma eleição constituinte de um Parlamento a quem se reconhecem poderes de elaborar a Constituição que será o fundamento jurídico-político de um estado independente. É mais um dos paradoxos deste processo. Provavelmente ambos os lados estão a pensar que a saída é uma eleição. Simplesmente o contexto, a causa e o resultado da eleição são posições completamente extremadas", conclui o comentador socialista.
Mecanismo europeu de protecção civil deve ser permanente
Na última edição do "Fora da Caixa", Santana Lopes e António Vitorino avaliaram as queixas verbalizadas pelo Presidente da Comissão Europeia em relação ao atraso na mobilização de ajuda europeia de protecção civil a Portugal nos incêndios de 15 de Outubro. Vitorino diz que há um defeito de concepção do mecanismo europeu de protecção civil.
" Desde o Tratado de Lisboa que está previsto que deveria existir um mecanismo permanente de protecção civil. Só que de facto ele nunca foi criado. É um mecanismo com meios próprios, destacáveis perante uma situação de emergência. É esse salto em salto em frente, já previsto no Tratado de Lisboa, a que se referia o presidente da Comissão Europeia", argumenta o antigo ministro da Defesa.