08 nov, 2017 - 15:41 • João Carlos Malta
Google e Facebook têm um poder enorme enquanto grossistas na difusão da informação. Mas o que é que são? Uma empresa de média? Uma empresa de serviços? O chefe de redacção do “New York Times”, Joseph Kahn, diz que ninguém sabe muito bem e que estas empresas estão num momento de limbo: estão a perceber se têm ou não responsabilidade no conteúdo que divulgam.
As “fake news” (notícias falsas) voltaram a ser tema na Web Summit, na manhã desta quarta-feira, no palco principal do evento que junta cerca de 60 mil pessoas na Altice Arena e na FIL – Feira Internacional de Lisboa.
Kahn afirma que agora as tecnológicas estão a ver em risco o modelo em que se definiam simplesmente como agregadoras de conteúdo, sem que assumissem qualquer responsabilidade pelo que veiculavam. As “fake news” levaram as pessoas a questionar a política dessas empresas.
No painel “Como seguimos em frente depois das ‘fake news’?”, o jornalista disse que até agora as gigantes tecnológicas olhavam para o conteúdo como algo de secundário. “Há a ideia em muitas tecnológicas de que o conteúdo é algo que deve ser barato e que não interessa de onde vem”, defendeu o chefe de redacção do “New York Times”.
“Tornar a tecnologia compatível com a democracia”
Kahn acredita que nem o Facebook nem a Google são grupos de média no sentido tradicional, uma vez que a escala de conteúdos que agregam é muito maior do que um órgão de comunicação social podia pensar em conseguir. Mas são o quê? “Serão os governos que terão de regular”, afirmou o jornalista.
O moderador do painel perguntou a Ann Mettler, dirigente do Centro de Estratégia de Política Europeia, grupo de reflexão interno da Comissão Europeia, se a vontade de Bruxelas não é criar um Ministério da Verdade (uma referência a “1984”, a distopia de George Orwell). Mettler referiu que não está a pedir regulação, mas apelou: “temos de entender realmente o que está a acontecer.” “Não podemos olhar para as notícias falsas como um mundo isolado. Temos discursos de ódio, temos espionagem económica”, acrescentou.
Ann Mettler sabe que a tecnologia veio para ficar – “nós apoiamo-la”. Mas adverte: “Acabou o tempo de sermos ingénuos.”
Para esta responsável europeia, é altura de olhar para esta questão seriamente porque está muito em jogo. O próprio sistema? “Sim. Temos de tornar a tecnologia compatível com a democracia.”