09 nov, 2017 - 12:18 • Pedro Rios
A indústria da moda continua a explorar as modelos, algumas menores de idade, levando-as a expor o corpo contra a sua vontade, denunciou a modelo portuguesa Sara Sampaio, esta quinta-feira, na Web Summit, em Lisboa.
A modelo portuguesa, conhecida em todo o mundo como uma das “angels” da marca de “lingerie” Victoria’s Secret, tinha denunciado, já em Outubro, práticas na indústria da moda que exploram os modelos, sobretudo os mais novos. Sara apareceu numa numa edição da revista francesa “Lui”. As fotos não foram autorizadas pela modelo da Victoria’s Secret, que tinha assinado um contrato com a “Lui” que não previa fotografias em que surgisse despida.
Sara Sampaio denunciou o caso nas redes sociais, onde é seguida por 9 milhões de pessoas (5,9 milhões só no Instagram), e a história correu mundo.
Na conferência “The modern day model”, no palco Modum da Web Summit, Sara Sampaio explicou como as redes sociais deram-lhe “poder” para poder denunciar práticas como esta, que diz serem comuns na indústria da moda.
Antes das redes sociais, disse Sampaio, os modelos - homens, mas sobretudo as mulheres - “não tinham uma voz”. Eram tempos de “faz o teu trabalho, cala-te e vai para a casa”, resumiu. Ferramentas como o Facebook, o Twitter e o Instagram “mudaram completamente” a indústria, alcançando “coisas incríveis” para os modelos, que ganharam “voz”. “Começamos a ser vistas como iguais nesta indústria. Antes, éramos, de alguma forma, exploradas.”
No caso da revista “Lui”, o que aconteceu, explicou, foi que fotos que eram “acidentes” na sessão – imagens mais explícitas em que revelava partes do corpo – foram escolhidas para a capa e para o interior da revista, contra a vontade da modelo.
Há várias práticas como esta na indústria da moda das quais Sara Sampaio, de 26 anos, está “farta”. “Se eu tenho este alcance [nas redes sociais para poder denunciar] e está a acontecer comigo, imagino o que acontece com outras raparigas”, afirmou a modelo com 10 anos de carreira. “Há muitas sessões que faço em que esperam que eu me dispa. Quando é assim, eu digo não. Se não me respeitam, vou fechar-me.”
Depois de expor publicamente o caso nas redes sociais, “recebeu mensagens de colegas” a agradecer-lhe aquela tomada de posição. “Há muita merda por que passam as raparigas menores de idade: fotos em ‘topless’, serem sexualizadas. Não precisa de ser assim.”
Sara Sampaio diz que, graças ao seu “poder” nas redes sociais, pode inspirar o “medo” na indústria, o medo da crítica às suas práticas erradas e abusivas. “O medo pode ser bom para indústria”, sublinhou. Mas lançou o apelo a profissionais com menos seguidores nas redes sociais: “os ‘posts’ podem tornar-se virais mesmo se não tiveres milhares de seguidores.”
“As mulheres ganham muito mais do que os homens nesta indústria, mas não são respeitadas. É altura de perguntar porquê”, concluiu.