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​Mudanças em Angola são actos de “sobrevivência política”, diz líder parlamentar da UNITA

16 nov, 2017 - 10:43 • Pedro Mesquita, com Cristina Nascimento

Adalberto da Costa Júnior garante, em entrevista à Renascença, que, apesar das mudanças, não há qualquer clima de liberdade no país.

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O líder parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, considera que as recentes mudanças em Angola não passam de actos de sobrevivência política.

“João Lourenço ou toma estas atitudes ou a sua duração na governação é curta, porque ele não tem os instrumentos económicos na sua mão - estes instrumentos estão nas mãos dos filhos do ex-Presidente da República", afirma Adalberto da Costa Júnior em entrevista à Renascença. "Os seus actos têm muito a ver com a condição de garantir a sua sobrevivência política”, declara.

O novo Presidente de Angola, João Lourenço, tem feito várias alterações em posições de poder no país. Nomeadamente, afastou Isabel Soares dos Santos da presidência da Sonangol e retirou à Semba Comunicação a gestão do segundo canal da TV Pública de Angola (TPA), afastando dessa forma Welwitshea ‘Tchizé’ dos Santos e o irmão José Paulino dos Santos, sócios da empresa. Todos filhos do antigo chefe de Estado, José Eduardo dos Santos.

Adalberto da Costa Júnior considera que são precisas ainda outras mudanças e espera que o novo Presidente "tenha coragem para o fazer".

Como interpreta o afastamento de Isabel dos Santos da Sonangol e estas decisões de mudança do novo Presidente angolano?

João Lourenço tem que tomar estas decisões ou a sua duração no poder será curta. Ele não tem os instrumentos económicos na sua mão. Estão nas mãos dos filhos do ex-Presidente. Portanto, os seus actos têm muito a ver com a condição de garantir a sua própria sobrevivência politica.

João Lourenço consegue garantir essa sobrevivência politica quando Eduardo dos Santos ainda é o líder do MPLA?

São desafios que existem, vamos ver... A estrutura de topo do MPLA governou, no passado, o 'bureau político' é o mesmo e, portanto, essas são questões que todos nos colocamos. O que ele está a fazer é aquilo que nós há muito tempo requeríamos. Faltam outros actos, muito urgentes, também. Esperemos que ele tenha coragem.

Um exemplo...

Olhe, a mudança do chefe do fundo soberano ,que está nas mãos de um outro filho. Não há prestação de contas. São actos devidos e João Lourenço sabe que, se não o fizer, não tem condições de governação.

Alguns analistas sugerem que as decisões do novo Presidente estão a ser concertadas com José Eduardo dos Santos...

Esse hipotético acerto acabará sempre por criar divergências de opinião. Espero que tenhamos um presidente que trate mais do país e menos do partido.

João Lourenço está a ser um bom Presidente?

Ainda é cedo para avaliar. Está há menos de 100 dias na presidência e há aspectos estratégicos do país em que ele ainda não meteu a mão. Portanto, visto de fora, é normal a surpresa. Visto de dentro, há uma enormíssima falência em tudo que são instituições e, por isso, a expectativa em relação a ele é muito maior do que aquilo que já fez.

Sente-se em Angola mais liberdade, neste momento?

Não, de maneira nenhuma. Dou um pequeno exemplo: eu, enquanto dirigente da UNITA, nunca tinha tido uma primeira página de um jornal de Angola, com uma entrevista. Tive-a há 15 dias, mas todas as respostas dadas sobre João Lourenço foram censuradas. Portanto, se antes não se podia falar do Presidente, hoje também não.

Isaías Samakuva é lider desde 2003. Não chegou a altura de renovar, também, a UNITA? Para mais, porque existe agora um Presidente da República com posições bem diferentes, pelo menos aparentemente, de José Eduardo dos Santos?

A UNITA é diferente do MPLA. Sempre tivemos congressos com propostas plurais e existe absoluta democraticidade na eleição do seu presidente. As diferenças são enormes, mas, de qualquer maneira, há quem, de fora do partido, questione, e temos que estar atentos. O senhor sabe que Isaías Samakuva colocou, depois das presidenciais, o seu lugar à disposição, para que o partido se pronuncie. Teremos, no final do mês, uma reunião da Comissão Politica que tomará decisões sobre esta matéria.

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