20 nov, 2017 - 15:11 • Filipe d'Avillez
O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, apelou esta segunda-feira aos líderes dos principais partidos para que voltem para a mesa das negociações para tentar alcançar um acordo de coligação, que teima em não se materializar.
Angela Merkel anunciou, esta segunda-feira, que as negociações tinham falhado, depois de o líder do partido dos Democratas Livres (FDP) se ter retirado do processo, anunciando que “mais vale não governar que governar mal.”
A admissão do falhanço seguiu-se a quatro semanas de negociações, aparentemente infrutíferas. Merkel, contudo, insiste que chegou a haver um acordo em perspectiva. Hoje a chanceler foi consultar o presidente Steinmeier para que se pudesse decidir o que fazer. Cabe ao Chefe de Estado decidir se Merkel forma um governo minoritário, se continua a tentar uma coligação de três partidos ou se convoca novas eleições.
Desde 1949 que a República Federal Alemã sempre foi governada por coligações. Nunca foi necessário recorrer a uma segunda ronda de eleições. A instabilidade gerada por esta demora está a preocupar os analistas e os países vizinhos. A União Europeia teme os efeitos de uma Alemanha enfraquecida politicamente para as negociações do Brexit.
Segundo os analistas políticos uma das grandes dificuldades nestas eleições é a questão dos refugiados, com os partidos de centro-direita a querer evitar parecer demasiado complacentes com esta questão, depois de o AfD, de extrema-direita, ter conseguido 13% nas eleições de Setembro, em grande medida devido à preocupação popular com esta questão.
Divisões no SPD?
Há um factor que poderá dar esperança a Angela Merkel. Precisamente meia-hora antes de Steinmeier ter dito que os partidos deviam negociar de novo, Martin Schulz, do SPD, tinha vindo dizer que na sua opinião o melhor seria avançar para novas eleições, afirmando que o seu partido não teme a decisão do povo.
O interessante é que Steinmeier fez a sua carreira política no SPD, pelo que a diferença de posições poderá indicar uma divergência interna naquele partido que, em última análise, poderá vir a beneficiar Merkel nas negociações e permitir ao SPD aceitar renovar a coligação que governou o país durante os últimos quatro anos.
E se falhar de novo?
Se as negociações falharem de novo, restam duas opções.
Um Governo minoritário seria algo nunca visto na Alemanha moderna e nem o partido de Angela Merkel (CDU) nem o principal partido da oposição, o SPD de Martin Schulz, consideram que essa é uma via positiva para a Alemanha.
Normalmente, isso tornaria o regresso às urnas a opção mais provável, mas os principais partidos temem que a AfD seja beneficiada pela crise política e se reforce ainda mais no Parlamento. De resto, as actuais sondagens não indicam grandes alterações a nível dos resultados dos restantes partidos políticos, pelo que as eleições poderiam, salvo alguma surpresa, não contribuir para desbloquear a situação.
Alguns partidos estão mesmo a dizer que o principal obstáculo à formação de uma coligação não são tanto diferenças de política, mas a própria figura de Angela Merkel, e que se ela for afastada será possível conseguir uma coligação. Aumenta assim a pressão sobre a mulher que governa a Alemanha há mais de uma década para conseguir um acordo com alguma rapidez. Caso contrário, poderá ter o seu próprio cargo em risco.