13 dez, 2017 - 16:21
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Denúncias de falta de liberdade, presos políticos, fome e apelos à Europa marcaram, esta quarta-feira, a entrega do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento à oposição democrática da Venezuela.
Júlio Borges, presidente da Assembleia Nacional, e António Ledezma, ex-presidente da Câmara de Caracas, receberam o galardão numa cerimónia realizada em Estrasburgo.
Os dois opositores ao regime pediram às autoridades europeias vigilância nas eleições presidenciais do próximo ano, onde o actual Presidente Nicolás Maduro também irá a votos e que já ameaçou proibir candidatos da oposição.
“Pedimos à Europa e a todo o mundo livre que preste atenção a este escrutínio, que deve decorrer sem chantagens e pressões, sem repressão e com respeito pela vontade dos eleitores. Solicitamos formalmente que uma missão eleitoral do Parlamento Europeu seja enviada para acompanhar estas eleições, para servir de garantia de que sejam livres”, pediu Júlio Borges.
O presidente da Assembleia Nacional viu os seus poderes legislativos esvaziados pela controversa Assembleia Constituinte, que tomou posse em Agosto.
O fundador do Primero Justicia, partido de tendência centrista, lembrou que a oposição da Venezuela continua a lutar contra o medo.
“Estou convencido que o nosso nobre desafio não é alheio à Europa. A vocês, honoráveis eurodeputados, não vos é estranha a luta que travamos na Venezuela contra a dominação e o medo. Em pleno século XXI, nós, venezuelanos, resistimos e enfrentamos um Estado totalitário, uma segunda Cuba, mas com as maiores reservas de petróleo, gás e ouro do Ocidente. Estamos há décadas determinados a persistir e a vencer essa perversa pretensão de colonizar a consciência de cada venezuelano. O regime sequestrou a democracia no meu país", declarou.
Júlio Borges falou durante cerca de 10 minutos no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. No final agradeceu a distinção lembrando a época do ano que se aproxima.
“Amigos da Europa, aproxima-se o Natal. E muitos lares venezuelanos vão receber o Salvador no meio de graves carências materiais, sem nada que comer. Seguramente com a mesma humildade, fé e amor que Maria Santíssima e São José - há mais de dois mil anos - o fizeram em Belém. Em nome deles e daqueles que mais sofrem e dos que merecem um futuro de oportunidades na Venezuela. Recebo este prémio com humildade que foi atribuído ao nosso indomável amor pela paz, pela democracia, pela justiça, pelo progresso e pelos direitos humanos. Em nome do povo venezuelano, o meu obrigado a todos vós.”
António Ledezma, antigo presidente da Câmara de Caracas e antigo preso político, lembrou todos os que continuam detidos.
“Não posso estar feliz e contente a receber este prémio sabendo que nas masmorras da Venezuela permanecem injustamente privados da sua liberdade mais de 300 presos políticos”, declarou o ex-autarca obrigado a fugir do país.