14 dez, 2017 - 06:52
Pelo menos nove mil rohingyas morreram no Estado de Rakhine, em Myanmar (antiga Birmânia), entre 25 de Agosto e 24 de Setembro, segundo investigações dos Médicos Sem Fronteiras em acampamentos de refugiados no Bangladesh.
"Como 71,7% das mortes relatadas foram causadas pela violência, cerca de 6.700 rohingyas, nas estimativas mais conservadoras, foram mortos, incluindo pelo menos 730 crianças menores de cinco anos", de acordo com as investigações feitas pelos MSF.
Segundo a organização, os resultados dos estudos mostram que "os rohingyas foram alvo" de violência generalizada.
Os resultados indicam também que "a violência generalizada que começou a 25 de Agosto, quando os militares da Birmânia, a polícia e milícias locais lançaram 'operações de varredura' em Rakhine, em resposta aos ataques do Exército de Salvação Arakan Rohingya".
Desde então, mais de 647.000 rohingyas fugiram da Birmânia para Bangladesh.
"Nós encontrámo-nos e falámos com sobreviventes da violência em Myanmar, que agora estão abrigados em acampamentos superlotados e insalubres no Bangladesh", disse o médico Sidney Wong, director médico dos MSF.
"O que descobrimos foi assombroso, tanto pelo número de pessoas que relataram que um membro da família morreu devido à violência, como por causa das formas terríveis pelas quais elas disseram que os parentes foram mortos ou gravemente feridos. O pico das mortes coincide com o lançamento das mais recentes 'operações de varredura' das forças de segurança, na última semana de Agosto", disse Wong.
No início de Novembro, os MSF realizou seis estudos retrospectivos de mortalidade em diferentes sectores dos acampamentos de refugiados em Cox's Bazar, no Bangladesh, na fronteira com a Myanmar.
A população total das áreas abrangidas pelas investigações foi de 608.108 pessoas, 503.698 haviam fugido após o dia 25 de Agosto e 100.464 eram crianças menores de 5 anos.
A taxa geral de mortalidade de pessoas nas famílias investigadas, no período entre 25 de Agosto e 24 de Setembro, foi de oito em cada 10 mil pessoas por dia.
No geral, os tiros foram a causa em 69% das mortes relacionadas com a violência, seguidos de pessoas queimadas até morrerem nas suas casas (9%) e espancadas até a morte (5%).
"O número de mortes provavelmente está subestimado, já que não estudamos em todos os acampamentos de refugiados em Bangladesh, e porque as investigações não contabilizam as famílias que nunca chegaram a sair de Myanmar", afirmou Sidney Wong.
Para os Médicos Sem Fronteiras, a assinatura de um acordo entre os Governos de Myanmar e o Bangladesh para o retorno dos refugiados é prematura.