18 dez, 2017 - 11:06
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos admitiu a hipótese de Aung San Su Kyi, conselheira de Estado em Myanmar (antiga Birmânia) e Nobel da Paz, vir a ser julgada por genocídio por causa da tragédia dos Rohingyas.
“Dada a escala da operação militar, houve claramente uma decisão superior. E há também o crime de omissão. Caso tenha tido conhecimento do que estava a acontecer e nada tenha feito, então pode ser julgada ao mais alto nível por isso”, afirmou Zeid Ra'ad Al Hussein em entrevista à BBC.
Apesar de reconhecer que o poder de Suu Kyi é limitado, o alto comissário acredita que ela poderia ter feito mais para tentar parar a campanha militar. Além disso, critica-a também por nunca usar a designação "Rohingya". “Ao omitir o nome que os identifica levou a uma desumanização”, sublinha.
Há provas das terríveis atrocidades que estão a ser
cometidas: massacres, homicídios e violações em massa de que eu próprio ouvi testemunhos
em campos de refugiados.
O silêncio de Suu Kyi sobre a minoria muçulmana levou a Amnistia Internacional a acusá-la de praticar “política de avestruz”.
A
Human Rights Watch (HRW) denunciou, esta segunda-feira, que outras 40 aldeias
da minoria muçulmana Rohingya no oeste do país foram queimadas no âmbito da
ofensiva militar que levou mais de 655 mil pessoas a fugir para o Bangladesh.
A organização internacional de defesa dos direitos humanos recorreu a imagens de satélite para identificar os novos incidentes, registados entre Outubro e novembro, que elevam para 354 o número de aldeias total ou parcialmente queimadas desde o início da campanha do exército birmanês em 25 de Agosto.
A repressão do exército birmanês contra os Rohingya, classificada pelas Nações Unidas como uma “limpeza étnica”, desencadeou uma das piores crises humanas do início do século XXI na Ásia.
A organização Médicos Sem Fronteiras denunciou, na semana passada, que pelo menos 6.700 membros da comunidade morreram desde finais de Agosto na sequência da violência.
Myanmar, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma comunidade apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.
Apesar de muitos viverem no país há gerações, os Rohingya não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais, além de enfrentarem uma série de privações, nomeadamente de movimentos. Em paralelo, o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.