10 jan, 2018 - 07:40
A Unicef desconhece o paradeiro de milhares de crianças da minoria muçulmana rohingya no Estado de Rakhine, em Myanmar (antiga Birmânia) denunciando que aquela região, de acesso negado, enfrenta uma grave carência de bens e de serviços essenciais.
Estas informações foram avançadas pela porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Marixie Mercado, que descreveu, durante uma conferência de imprensa em Genebra (Suíça), a viagem que fez às zonas centro e norte do Estado de Rakhine onde vive a minoria rohingya, que tem sido perseguida e discriminada pelas autoridades birmanesas durante várias décadas.
Em finais de Agosto de 2017, em Rakhine, a agência da ONU prestava auxílio a 4.800 crianças rohingyas que sofriam de desnutrição aguda grave.
Mas, após o início da repressão das forças militares, as autoridades locais decidiram negar o acesso a todas as agências da ONU e a Unicef deixou de ter contacto com estes menores.
Os 12 centros de tratamento terapêutico e todos os centros de cuidados primários que eram apoiados pela Unicef acabaram por ser destruídos durante a recente vaga de violência, segundo a organização internacional.
“Ninguém distribui água ou comida”, denunciou a porta-voz.
A agência das Nações Unidas também desconhece quantas crianças permanecem na região ou quantos menores fugiram para o “vizinho” Bangladesh, onde mais de 620 mil rohingyas estão refugiados desde o início da violência a 25 de Agosto.
Outras organizações que trabalham no terreno com a Unicef indicaram que identificaram pelo menos 20 crianças separadas das respetivas famílias, mas as estimativas apontam que o número pode atingir os 100 menores.
Estes números não podem ser confirmados porque estas organizações também não têm acesso a várias áreas do Estado de Rakhine.
O actual êxodo dos rohingyas teve início em Agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
Esta campanha de repressão do exército já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
O Estado birmanês, um país mais de 90% budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos rohingyas, nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Esta crise desencadeou uma vaga de críticas à líder de facto da Birmânia e Nobel da Paz (1991), Aung San Suu Kyi.