27 jan, 2018 - 22:32
O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva afirma estar certo de que vencerá as eleições presidenciais de Outubro à primeira volta, considerando que as perseguições de que tem sido alvo estão a ter um efeito positivo nas sondagens.
Condenado a 12 anos de prisão por corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva fez-se hoje ouvir através de uma mensagem de vídeo enviada a uma conferência a que tencionava assistir este fim de semana, sobre a fome em África, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pela União Africana, na sede desta, em Adis Abeba, à margem de uma cimeira da UA que decorrerá no domingo e na segunda-feira.
Mas na quinta-feira, quando se preparava para partir para a Etiópia, Lula, o candidato às próximas eleições presidenciais brasileiras, em Outubro, foi impedido de sair do Brasil por um juiz federal que ordenou que lhe fosse apreendido o passaporte.
"Eles não querem que eu seja candidato, porque quanto mais me acusam e me perseguem, mais eu subo nas sondagens", disse o antigo presidente, referindo-se à imprensa e às elites do país, que frequentemente acusa de conspirarem contra ele.
"Eles sabem que se eu for candidato, as minhas hipóteses de ganhar a eleição à primeira volta são absolutas", declarou Lula aos participantes na conferência, entre os quais o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmando-se "desolado por não estar presente" ao vivo em Adis Abeba.
No vídeo, depois difundido nas redes sociais, Lula apresenta-se como "vítima de uma perseguição política" que tem como principal objetivo impedir que volte a conquistar a Presidência em outubro.
"Não tem limites a quantidade de mentiras e a desfaçatez para tentar impedir que volte a governar", disse Lula, acrescentando que está a ser "condenado pelas coisas boas que houve no Brasil" enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve no poder.
Lula da Silva assumiu a Presidência em 2003 e exerceu-a durante dois mandatos consecutivos, até passar em 2011 o poder à sua pupila Dilma Rousseff, destituída em 2016 por irregularidades fiscais.
O ex-presidente reiterou que Dilma "foi vítima de um golpe parlamentar" e que, desde então, existe no Brasil "um clima de terror" e "um momento de ditadura" para o qual está a contribuir, sustentou, parte do poder judicial e, em especial, a operação Lava Jato contra a corrupção, no âmbito da qual foi investigado, julgado e condenado.
Na quarta-feira, um tribunal de segunda instância de Porto Alegre confirmou o veredicto da primeira instância, considerando Lula culpado de corrupção passiva e branqueamento de dinheiro, por ter aceitado um apartamento 'triplex' à beira-mar oferecido por uma empresa de construção civil, e aumentando em um terço a sua pena de prisão, de nove anos e meio para 12 anos e um mês, mas deixando-o em liberdade enquanto aguarda o resultado dos recursos que a sua defesa interporá.
Três advogados tinham apresentado um pedido, a título individual, de retirada do passaporte a Lula, invocando o risco de o ícone da esquerda brasileira fugir para o estrangeiro após o fracasso do seu recurso no dia anterior.
"Vejam que absurdo. Estava com a minha mala já pronta para viajar, mas um juiz ordenou que me retirassem o passaporte", comentou Lula, que responde também em seis outros processos penais por suspeita de corrupção.
Na sua mensagem transmitida na conferência, frisou que "é preciso mais paz e muita democracia no mundo para debater uma melhor distribuição da riqueza" e garantir que as pessoas mais pobres podem "tomar o café da manhã, almoçar e jantar".
Considerou essa meta "um direito sagrado" e salientou que os brasileiros chegaram a conquistá-lo durante a sua gestão, mas começaram a perdê-lo após "o golpe contra Dilma".
"Eles sabem que se sou candidato contra a imprensa e a elite, a minha possibilidade de ganhar é total, e sabem que, se eu ganho, os pobres vão participar outra vez no crescimento da economia, terão salário, rendimento e o direito a viver dignamente, como viveram durante o meu Governo", acrescentou.