18 mar, 2018 - 10:35 • João Carlos Malta com Reuters
Os russos vão às urnas este domingo para eleger o novo presidente, uma eleição que deverá dar a Vladimir Putin mais uma vitória folgada. No entanto, no Kremlin há a preocupação de que os eleitores acabem por ficar em casa devido a um resultado que é tão previsível.
As sondagens dão a Putin cerca de 70%, quase 10 vezes mais do que o oponente mais próximo. Em caso de vitória, o que parece altamente provável, Putin somará 25 anos no poder - uma longevidade que o deixa atrás apenas de Josef Stalin.
A 9 de março, a VTsIOM, uma empresa de sondagens controlada pelo Estado, deu a Putin, que foi eleito presidente pela primeira vez em 2000, 69%. O rival mais próximo, Pavel Grudinin, candidato do Partido Comunista, tem apenas 7%.
Os opositores de Putin alegam que está a haver manipulação da participação de modo a inflacionar o número de votantes.
Muitos dos apoiantes de Putin acreditam que o antigo espião do KGB, de 65 anos, defende os interesses da Rússia num contexto internacional hostil, embora saibam que o custo possa ser um confronto com o Ocidente.
A tensão com a Grã-Bretanha motivado pelas acusações de que o Kremlin usou um gás nervoso para envenenar um agente duplo russo numa cidade inglesa, e que é negada por Moscovo, não abalou a posição de Putin.
Sem alternativa?
A maioria dos eleitores não antevê uma alternativa viável a Putin. O atual presidente tem o domínio total da cena política e da televisão estatal, através da qual a maioria das pessoas recebe as notícias, e que dá uma cobertura generosa de tudo o que tenha a haver com Putin e pouco tempo de antena aos opositores.
Galina Zhukova, pensionista, chegou à mesa de voto número 1512 em Zelenodolsk, a cerca de 800 quilómetros a leste de Moscovo, com seu marido, Alexei. Chegaram logo após a abertura das portas.
"Votamos
em Putin. As coisas estão a correr bem para nós ", disse
Alexei." E não há mais ninguém para votar ", disse Galina citada pela
Reuters.
Nos 11 fusos horários da Rússia, a votação começou no sábado na margem oriental da Rússia, na cidade da costa do Pacífico de Petropavlovsk-Kamchatsky.
Naquele local, os eleitores receberam pequenas bandeiras de plástico com o slogan: "Eu amo Kamchatka. Nós somos os primeiros".
A votação terminará este domingo na parte mais ocidental da Rússia, região de Kaliningrado no Mar Báltico, quando encerrarem as últimas mesas de voto.
Apagar a concorrência
O primeiro político que em vários anos tentou desafiar o controlo do poder de Putin, Alexei Navalny, foi excluído da corrida devido a uma condenação de corrupção que ele diz que foi fabricada pelo Kremlin.
Navalny pede um boicote às eleições, afirmando que se trata de uma farsa antidemocrática, e que está a decorrer uma mobilização de apoiantes para inflacionar participação e apoio a Putin.
Uma baixa participação diminuiria a autoridade de Putin num mandato, que, segundo a constituição russa, tem que ser o último.
"Não vejo porque é que eu tenho de votar", disse Alexei Khvorostov, residente de Krasnodar, no sul da Rússia.
Yevgeny Roizman, um oponente do Kremlin que é autarca da cidade industrial de Ekaterinburg, disse que há funcionários do estado a subornar e a dar incentivos para persuadir as pessoas a votar.
"Eles estão a reunir pessoas por todo o país para irem para as mesas de voto", disse Roizman, um exemplo raro de alguém eleito e que é opositor do Kremlin. "É degradante ... Não somos ovelhas".
Por exemplo, na região de Khabarovsk, na costa do Pacífico da Rússia, há elementos do Estado a vender ovos, ervilhas enlatadas e peixe congelado junto às mesas de voto. Os preços têm um desconto entre 10 e 30% em comparação com os preços nas lojas locais.
"Ao fazer isto, esperamos atrair os eleitores e pensamos que podemos aumentar a participação", disse Nikolai Kretsu, presidente do mercado do consumidor na Administração Regional.
"O segundo objetivo é fortalecer a fidelidade para com as autoridades", rematou.