22 mar, 2018 - 15:00 • Filipe d'Avillez
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As Forças Democráticas da Síria (FDS), um grupo armado que controla boa parte do Nordeste daquele país, têm sido, ao longo dos últimos três anos, as principais responsáveis pelo combate ao Estado Islâmico.
Apoiadas por ataques aéreos e conselheiros militares da coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos, as Forças Democráticas foram acumulando vitórias sobre os jihadistas em vários pontos da Síria.
Em resultado dessas vitórias, as FDS, grupo composto por milícias curdas, cristãs e árabes, vêem-se agora, entre mãos, com milhares de prisioneiros de guerra e seus familiares, incluindo muitos nacionais de países ocidentais. O problema não tem resolução fácil e o grupo tem pedido ajuda aos aliados europeus, de modo a que, pelo menos, fiquem com os seus cidadãos. Até agora, contudo, não obteve qualquer colaboração.
“São centenas de combatentes europeus. Temos presos de 42 nacionalidades diferentes e suas famílias. É uma situação muito difícil, estamos a tentar trabalhar com a coligação para interrogar estes combatentes e recolher o máximo de informação possível, para poder prevenir ataques na Síria ou noutros locais, incluindo na Europa, Estados Unidos ou outros”, explica, em entrevista à Renascença, o porta-voz das FDS, Kino Gabriel.
“Mas é uma situação muito difícil para nós, porque não temos os recursos para tanta gente e estamos ainda a tentar perceber como os processar legalmente, porque nem todos combateram na Síria. Alguns combateram no Iraque e, quando fugiram para a Síria, nós detivemo-los. Já os familiares estão numa situação diferente, não sabemos como lidar com eles, porque podem não ser terroristas, podem ter sido obrigados a vir para cá.”
O porta-voz das FDS não se limita a lamentar a falta de colaboração dos aliados, reconhecendo também as suas dificuldades. “Para além do Canadá, nenhum outro país aceitou de volta os seus cidadãos. É complicado para eles também. Não sabem como os julgar e, ao mesmo tempo, é necessário obter a maior quantidade de informação possível. Muitos deles estão a dizer que não estiveram envolvidos nos combates, ou que não mataram ninguém. Mas precisamos de mais colaboração da comunidade internacional e de diferentes países, para lidar com esta situação. É um problema muito grave que estamos a enfrentar.”
As FDS orgulham-se de contar nas suas fileiras com milícias cristãs e árabes, para além das YPG curdas. No início da Guerra Civil da Síria, há cerca de sete anos, o Exército Sírio recuou da área, deixando-a à mercê das populações locais, que acabaram por montar uma região de facto autónoma. No papel, esta é inimiga de Damasco, que não aceita a ideia de um país federal, como propõem os curdos, árabes e cristãos do Nordeste, mas, na prática, Damasco e as FDS colaboraram frequentemente no combate contra o Estado Islâmico e têm respeitado um pacto de não-agressão informal.