30 mar, 2018 - 11:55
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A Turquia ameaçou esta sexta-feira a França, dizendo que esta não escapará às consequências de apoiar as Forças Democráticas da Síria (FDS) no Nordeste daquele país. Ancara considera que o grupo, composto em grande parte por curdos, é um movimento terrorista.
As declarações do Presidente Erdogan surgem depois de França ter garantido que continuará a apoiar as FDS na luta contra o Estado Islâmico naquela região. “Estamos muito entristecidos pela abordagem totalmente errada da França, que esperamos que seja o resultado de equívocos”, afirmou.
Erdogan disse ainda que a França não se deve vir queixar mais tarde se, por causa da sua atitude de apoio a terroristas, venha a ser invadida por extremistas.
Mas o vice-primeiro ministro da Turquia, Bekir Bozdag, foi mais longe e escreveu na sua conta do Twitter que “quem entrar em colaboração e solidariedade com grupos terroristas contra a Turquia tornar-se-á, tal como os terroristas, um alvo da Turquia. Esperamos que a França não tome um passo tão irracional”.
Ao longo dos últimos anos as FDS têm assumido um papel fundamental no combate ao autoproclamado Estado Islâmico, fornecendo as forças no terreno, com o apoio logístico e aéreo da coligação internacional que se formou para combater o grupo terrorista.
As FDS são compostas por um conjunto de milícias, essencialmente de base étnica, incluindo árabes e cristãos, mas o grosso dos combatentes são das YPG, uma milícia curda. A Turquia acusa as YPG de serem uma extensão do PKK, uma força curda que tem levado a cabo uma insurreição contra o Estado turco há décadas e ao longo das últimas semanas invadiu o nordeste da Síria para expulsar as FDS de algum dos territórios junto à fronteira com a Turquia, a começar por Afrin. Agora as tropas turcas, apoiadas pelo Exército Livre da Síria, ameaçam outras cidades, incluindo Manbij, onde estão estacionadas forças americanas e de outros países da coligação.
Uma fonte francesa do palácio presidencial disse à Reuters que esta atitude da Turquia é “inaceitável” e outra fonte das FDS, contactada pela mesma agência, diz que os gauleses têm oferecido apoio, incluindo militar. França diz, porém, que este apoio militar tem por objetivo o combate ao Estado Islâmico, mas as FDS têm afirmado que os ataques turcos os têm obrigado a desinvestir da luta contra este grupo jihadista, deslocando tropas para a zona fronteiriça com o Estado turco, permitindo um ressurgimento do Estado Islâmico que, até há poucas semanas, estava limitado a umas bolsas de resistência junto ao Rio Eufrates.
A fonte das FDS diz que França se ofereceu para mediar entre a milícia e Ancara, mas a retórica de Erdogan e do seu Governo não parecem revelar grande abertura para o diálogo.