07 abr, 2018 - 12:38 • Joana Azevedo Viana
O Fidesz, partido nacionalista de direita liderado por Viktor Orbán, parece estar encaminhado para uma terceira vitória consecutiva em eleições legislativas na Hungria.
No domingo, os eleitores húngaros são chamados a escolher o seu próximo governo e as sondagens antecipam a vitória do "ditador europeu", assim classificado por revistas como a "Politico" e a "New Statesman" - e até por Jean-Claude Juncker, atual presidente da Comissão Europeia, numa tirada jocosa em 2015.
Contudo, e pela primeira vez desde que chegou ao poder em 2010, o Fidesz arrisca-se a perder a maioria que detém no Parlamento.
Quase todos os inquéritos de opinião dão avanço ao partido de Orbán, mas restam dúvidas sobre se a fraturada oposição vai conseguir roubar votos suficientes ao Fidesz para travar uma terceira maioria absoluta nas urnas.
Contribuem para esta incerteza fatores como o número considerável de eleitores ainda indecisos e o facto de, há menos de um mês, o candidato do partido de Orbán ter sido derrotado por um independente em eleições municipais especiais em Hódmezővásárhely.
Em última instância, os resultados das eleições gerais de domingo na Hungria vão definir a futura relação do país com a União Europeia, numa altura em que o Fidesz continua a desafiar Bruxelas e os Estados-membros do bloco, como a Alemanha, que são mais favoráveis ao acolhimento e integração de refugiados no continente.
"Esta eleição vai definitivamente determinar se a Hungria quer continuar a pertencer à Europa ou se vai envolver-se com [Vladimir] Putin e a Rússia, numa altura em que continua a aproximar-se de soluções não-democráticas como aquelas em que Putin é especialista e que, de outra forma, também são usadas pela Turquia", referia esta semana à Euronews o analista político Zoltan Cegledi.
A seguir à chanceler alemã, Angela Merkel, Orbán é o chefe de governo europeu há mais tempo no poder: faz em maio oito anos. Em 2010, e novamente em 2014, venceu com maioria absoluta, conquistando mandatos fortes para aprovar uma nova Constituição que já foi alterada várias vezes desde então e que, segundo a Comissão e relatores do Parlamento Europeu, é contrária aos valores fundamentais da UE. A isso junta-se o bloqueio imposto pelo primeiro-ministro húngaro ao sistema de quotas de acolhimento de refugiados defendido por Juncker e Merkel desde o início da crise humanitária.
Nesta ida às urnas os húngaros vão definir também a distribuição dos 199 assentos do parlamento. Os analistas dizem que é preciso prestar atenção à participação eleitoral, sobretudo depois de menos de metade dos eleitores ter votado no referendo sobre imigração e refugiados que Orbán convocou em 2016 para fazer frente à UE.
A mais elevada participação eleitoral já registada na Hungria moderna, de 72%, deu-se em 2002. Se esse valor se repetir ou for ultrapassado, tal poderá sinalizar uma mobilização eficiente de apoiantes dos partidos da oposição, que ficarão assim mais perto de roubar a maioria parlamentar a Orbán, dizem os especialistas.
Essa possibilidade já foi assumida pelo próprio líder parlamentar
do Fidesz, que no início de março admitiu que será
difícil conquistar dois terços dos assentos como aconteceu em 2010 e
2014. "O nosso objetivo claro é formar governo", disse Gergely Gulyas à revista "Hetek". "Posso estar a ser pessimista, mas acho
improvável uma vitória de dois terços e não vejo quaisquer
possibilidades de formarmos coligação."
Na mesma entrevista, o líder da bancada do Fidesz advertiu que,
"se não for possível formar um governo estável, mais cedo ou mais tarde
haverá eleições antecipadas" no país. "Preservar a estabilidade húngara é
o que está verdadeiramente em jogo nestas eleições."
As mais recentes sondagens prevêem que será o Jobbik a ficar em segundo lugar no plebiscito. O líder do partido de extrema-direita já fez saber que não está disponível para formar coligação nem com o partido de Orbán nem com os partidos de centro e da esquerda.