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Facebook. Zuckerberg assume culpa perante o senado e volta a pedir desculpa

10 abr, 2018 - 23:19 • Rui Barros

Na audição a 44 senadores norte-americanos, o CEO da rede social disse "a plataforma é segura", mas também revelou que não se sentiria confortável em partilhar o nome do hotel em que ficou na noite anterior.

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O Facebook é um monopólio? Zuckerberg acha que não
O Facebook é um monopólio? Zuckerberg acha que não

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Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, assumiu esta terça-feira perante o Senado dos Estados Unidos que “deveria ter agido mais cedo” e que, por isso, terá uma quota de culpa no caso que envolve a rede social e a consultora Cambridge Analytica. Em causa, está o uso de dados dos utilizadores para influenciar as eleições norte-americanas.

Perante 44 senadores − tiveram de ser adicionadas cadeiras à sala onde decorreu a audiência − ao longo de uma sessão que durou mais de três horas, Mark Zuckerberg voltou a pedir desculpa, mas garantiu que nunca houve intenção da rede social de influenciar os eleitores norte-americanos.

“Não fizemos tudo o que devíamos para prevenir que isto acontecesse”, confessou o CEO da maior rede social do mundo. “Foi um erro meu”, disse, acrescentado: “Sinto muito”.

Ted Cruz aperta Zuckerberg

O momento mais tenso terá sido o momento em que o senador Ted Cruz − que, recorde-se, também recorreu aos serviços da Cambridge Analytica para tentar ganhar as eleições internas no Partido Republicano − questionou Mark Zuckerberg se “considerava a sua plataforma uma plataforma livre para todos os discursos”.

Relutante em dar uma resposta de “sim” ou “não”, Mark Zuckerberg respondeu que o Facebook não pactua com discursos “que façam as pessoas sentirem-se inseguras” − como propaganda terrorista − mas que considera a rede social que lidera aberta a todos os discursos.

Cruz questionou então o CEO do Facebook sobre a possibilidade de a plataforma “estar enviesada” para o discurso dos democratas, numa referência à investigação do site Gizmondo, que acusava a rede social de suprimir "conteúdo favorável" ao Partido Republicano.

Zuckerberg assumiu que “Silicon Valley é muito liberal”, mas que isso “nunca influenciará a forma como os conteúdos circulam na rede”.

Estado regulador?

A possibilidade de o Estado regular o mercado das tecnológicas foi outro assunto sobre o qual Mark Zuckerberg foi várias vezes questionado. O senador Lindsey Graham sugeriu que a gigante de Silicon Valley "tinha o monopólio das redes sociais" e que, por isso, a empresa tinha de estar debaixo de regulação, já que o mercado concorrencial não o fazia.

“Não acho que não deva haver regulação. Acho que deve haver um bom tipo de regulação”, respondeu Zuckerberg.

Questionado sobre que tipo de legislação deveria entrar em vigor, Zuckerberg apontou para o exemplo da legislação europeia “que apanha muita coisa bem”, e mostrou-se disponível em trabalhar com o senado norte-americano para criar legislação que regula o mercado do uso de dados pessoais na rede.

Esta foi, aliás, a resposta mais vezes repetida por Zuckerberg, que apontava sempre para a possibilidade de "fazer a equipa contactar o senado", nomeadamente quando as questões eram muito concretas.

Apesar dessa disponibilidade, e confrontado com o modelo de negócio da empresa − que se baseia na venda de publicidade direcionada com base dos dados do utilizador− o CEO do Facebook voltou a repetir a ideia de que a empresa “não vende os dados das pessoas aos anunciantes”.

Sobre a possibilidade de os utilizadores pagarem para terem uma versão sem publicidade do Facebook, Zuckerberg respondeu que “sem publicidade teria de mudar de modelo de negócio”.

“Não o vamos fazer. Achamos que este modelo, grátis, é o que melhor promove a nossa missão de ligar as pessoas no mundo”, acrescentou o maior acionista da rede social.

“Haverá sempre uma versão do Facebook gratuita. Se queremos ligar o mundo, temos de a manter”, garantiu.

Erramos muitas vezes

O senador republicano John Thune confrontou Zuckerberg com os diversos pedidos desculpas que o CEO fez ao longo dos anos e questionou “porque que é que o senado deve confiar, desta vez, neste pedido de desculpa”.

“Fizemos muitos erros. Acredito que, ao criar uma empresa num dormitório de universidade e crescer como o Facebook cresceu, é impossível não cometer erros. Tentamos é não cometer sempre os mesmos”, respondeu Zuckerberg.

“Achávamos que se construíssemos uma ferramenta e a déssemos para as mãos das pessoas, essas pessoas fariam coisas boas com elas. Aprendemos que não é o caso, e vamos trabalhar nisso”, garantiu o criador da rede social.

Esta foi a mesma expressão que o fundador do Facebook usou, horas antes, numa publicação na sua página na rede social.

Apesar dos recentes casos, e dos “erros e falhanços” admitidos pelo CEO, Zuckerberg voltou a defender que a rede social que gere “é segura”.

“Acho que o Facebook é seguro. Eu uso-o, a minha família usa-o. É uma plataforma segura”, defendeu o CEO perante os 44 membros do congresso norte-americano.

No entanto, a audição ficou também marcada pela pergunta do senador democrata Dick Durbin: “Está confortável em partilhar connosco o nome do hotel em que ficou na noite passada?”

Zuckerberg ainda hesitou e depois disse: “Hummm, uhhh, não”.

Rússia

Em relação ao uso de contas falsas por parte de cidadãos russos associados à Internet Research Agency, a empresa russa que terá agido em solo norte-americano para espalhar notícias falsas, Zuckerberg revelou que está a trabalhar com Robert Mueller na investigação à eventual interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.

"Não estou ao corrente de uma convocação, mas eu sei que estamos a trabalhar em conjunto", disse Mark Zuckerberg, em resposta a uma questão de um membro do comité de Justiça do Senado norte-americano.

“Há gente na Rússia cujo trabalho é explorar os nossos sistemas e outros sistemas de Internet também”, defendeu o criador do Facebook, que realçou a necessidade de criar formas de impedir que essas pessoas influenciem a orientação de voto recorrendo a notícias falsas propagadas com a ajuda de notícias falsas.

Esta é a primeira de duas audições que o CEO do Facebook enfrenta no Capitólio. Na quarta-feira, Zuckerberg é ouvido na comissão de Comércio e de Energia da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso).

A empresa está no centro de uma polémica internacional. Uma investigação jornalística mostrou que os dados da rede social foram utilizados, sem o consentimento dos seus utilizadores, pela consultora britânica Cambridge Analytica para elaborar um esquema que envolvia o uso desses dados para influenciar o resultado das eleições de 2016.

Mark Zuckerberg foi chamado para depor perante o Parlamento Europeu e o Parlamento do Reino Unido. Nestes dois casos, o CEO terá recusado.

Na sexta-feira, a Comissão Europeia afirmou ter tido indicações do Facebook que dados de "até 2,7 milhões" de utilizadores daquela rede social a residir na União Europeia poderiam ter sido transmitidos de "maneira inapropriada" à empresa britânica Cambridge Analytica.

Em Portugal, acredita-se que o número de utilizadores afetados poderá rondar os 63 mil.

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