11 abr, 2018 - 16:25 • Rui Barros
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O CEO e fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, revelou, esta quarta-feira, que também estava na lista de pessoas cujo os dados foram vendidos à consultora britânica Cambridge Analytica.
A informação foi revelada pelo próprio enquanto prestava esclarecimentos perante a comissão do Comércio e da Energia da Câmara dos Representantes, no seu segundo e último dia a testemunhar no Capitólio.
Questionado por Anna Eshoo, uma representante do estado da Califórnia, sobre se os seus dados tinham também sido recolhidos e vendidos a uma empresa, Zuckerberg demorou alguns segundos a responder, mas acabou por confessar: “Sim”.
Zuckerberg foi também questionado sobre quantas empresas terão acedido aos dados dos cidadãos. Relutante em responder, o CEO da rede social reconheceu que os dados recolhidos por Alexander Kogan, o professor universitário que desenvolveu uma aplicação que recolheu 87 milhões de dados pessoais da plataforma, podem ter sido comprados “por um punhado de empresas”.
O fundador da rede social reconheceu, ainda, que o processo de averiguação sobre quantas aplicações recolheram informação de cidadãos “demorará muitos meses” e que, por isso, não tem os dados necessários para informar quem conseguiu recolher dados.
Quando abordado sobre a possibilidade de apresentar alguma ação legal contra Kogan, Zuckerberg respondeu que “já o baniram da plataforma”, mas que “é algo que estão a pensar”.
Apesar de ter reconhecido que os seus próprios dados foram vendidos, Mark Zuckerberg insistiu ainda na ideia já defendida na terça-feira de que os utilizadores têm controlo sobre todos os seus dados, dizendo ainda, debaixo de juramento, que os dados que o utilizador obtém quando pede à rede social para descarregar os seus dados são “todos os dados que o Facebook tem”.
“Sempre que alguém escolhe partilhar algo no Facebook, essa pessoa tem o controle. Bem ali. Não está enterrado nas configurações da plataforma, está bem ali”, defendeu o fundador da maior rede social do mundo, em referência ao conteúdo que é partilhado na rede, mas não aos dados que a empresa recolhe para direcionar publicidade de terceiros.
“Como é que os utilizadores podem controlar os seus dados quando o próprio Facebook parece não ter controlo sobre esses dados?”, questionou Frank Newton, de Nova Jersey.
Não somos uma operação de vigilância
Num segundo dia com perguntas mais diretas - muitos analistas políticos acusaram os senadores que colocaram questões na terça-feira de não estarem por dentro do tema - Mark Zuckerberg viu-se obrigado a defender-se da acusação de estar a dirigir um site com uma “operação de vigilância montada”.
“Pode deixar o Facebook a qualquer altura”, argumentou Zuckerberg perante as acusações do congressista Rob Rush. “Acho que ninguém pode abandonar uma organização de vigilância. Eles não deixam essas pessoas irem-se embora”, acrescentou.
Uma questão que ficou por responder durante a sessão de terça-feira e à qual os congressistas da Casa dos Representantes voltaram esta quarta-feira foi sobre a forma como o Facebook recolhe dados dos utilizadores mesmo quando estes não estão ligados à rede social.
“Monitorizamos informação sobre as pessoas quando elas não estão ligadas por causa da sua segurança e por causa dos anúncios”, argumentou Zuckerberg.
Os “lapsos de memória”, uma estratégia utilizada pelo executivo para não responder a algumas questões na sessão de terça-feira, voltaram a acontecer, com Diana DeGette, do estado do Colorado, a perguntar a Zuckerberg “se é ou não é CEO do Facebook”, quando este disse “não se lembrar se tinha pago uma multa à FTC ( Comissão Federal do Comércio)”. Em causa estava um acordo de proteção de dados que a empresa assinou à altura e que muitos consideram que foi violado neste caso.
Abordado sobre a possibilidade de “mudar o seu modelo de negócio para proteger a privacidade das pessoas”, Zuckerberg demorou a responder, argumentando que “não sabe o que é que isso significa”.
Durante a sessão de terça-feira, o tema da utilização dos dados pessoais como modelo de negócio foi abordada, com o executivo de Silicon Valley a defender que “sem publicidade teria de mudar de modelo de negócio” mas que não estava a considerar essa opção.
Mark Zuckerberg foi chamado para depor perante o Parlamento Europeu e o Parlamento do Reino Unido. Nestes dois casos, o CEO terá recusado.
Na sexta-feira, a Comissão Europeia afirmou ter tido indicações do Facebook que dados de "até 2,7 milhões" de utilizadores daquela rede social a residir na União Europeia poderiam ter sido transmitidos de "maneira inapropriada" à empresa britânica Cambridge Analytica.
Em Portugal, acredita-se que o número de utilizadores afetados poderá rondar os 63 mil.