16 abr, 2018 - 11:58
A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) registou mais de 390 alegados incidentes com o uso ilícito de munições quimicamente venenosas na Síria desde 2014.
A estimativa é avançada esta segunda-feira pela agência Reuters, que cita o enviado britânico àquela organização. O embaixador Peter Wilson participou na reunião à porta fechada que debateu o ataque de 7 de abril em Douma (Ghouta oriental).
“Chegou o momento de todos os membros deste conselho executivo tomarem uma posição. Muitos não assumem toda a responsabilidade associada a ser membro deste conselho. Falhar em trazer os culpados do ataque [em Douma] à responsabilidade só aprofundará o risco do uso de armas químicas na Síria e outros locais”, defendeu.
Os Estados Unidos, por seu lado, acusam a Rússia de ter adulterado o local onde ocorreu o alegado ataque com armas químicas.
“Entendemos que os russos terão visitado o local do ataque e a nossa preocupação é que o tenham adulterado, com o objetivo de impedir os esforços da missão da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) de proceder a uma investigação eficaz”, afirmou o embaixador norte-americano Kenneth Ward, citado pela agência Reuters.
“Há muito que a este conselho devia ter condenado o governo sírio pelo terror químico que espalha e chamado à responsabilidade os autores de tais atos hediondos”, defendeu ainda o representante diplomáticos dos EUA, apelando a que a organização condene o contínuo uso deste tipo de armas proibidas.
Na sexta-feira, Estados Unidos, Reino Unido e França lançaram mais de 100 mísseis contra três alegadas instalações de armas químicas – uma ação que enfureceu a Rússia, apoiante da Síria.
Segundo o Presidente norte-americano, Donald Trump, o ataque cumpriu o seu objetivo: minar os esforços do governo sírio para produzir e utilizar armas químicas violando a Convenção das Armas Químicas (um acordo sobre o controlo deste tipo de armas, que proíbe a sua produção, armazenamento e uso e que entrou em vigor em 1997).
Os inspetores da OPAQ (que surgiu em 1997 com o objetivo de zelar pelo cumprimento da convenção) estão esta segunda-feira em Douma, onde esperam recolher amostras, entrevistar testemunhas e recolher provas documentais que permitam esclarecer se no ataque de dia 7 foram utilizadas munições proibidas.
Há mais de uma semana que organizações não-governamentais denunciaram um ataque com bombas de gás sarin e cloro. O ataque atingiu várias crianças refugiadas do conflito que dura há anos entre os rebeldes e as forças oficiais do governo sírio, liderado por Bashar al-Assad.
Mas, segundo fonte diplomática citada pela agência Reuters, as provas do ataque terão sido destruídas enquanto os inspetores da OPAQ negociavam a sua entrada em Douma com as autoridades sírias.
A Síria e a Rússia negaram desde o início a utilização de armas químicas naquele ataque.
A Síria juntou-se à Organização para a Proibição de Armas Químicas em 2013, depois de um ataque com gás sarin que matou centenas de pessoas em Ghouta. A adesão fez parte de um acordo entre os Estados Unidos e a Rússia que evitou uma intervenção militar por parte de Washington. Era Presidente Barack Obama.
A reunião desta segunda-feira entre os 41 membros da organização pretende debater o assunto, mas não se espera qualquer conclusão quanto a uma resposta conjunta.
A organização necessita de uma maioria de dois terços para poder tomar decisões, mas está minada por uma profunda divisão política no que toca ao uso de armas químicas pelo governo sírio.
Uma missão conjunta das Nações Unidas e da OPAQ concluiu que as tropas de Bashar al-Assad levaram a cabo vários ataques com armas químicas nos anos mais recentes, incluindo um, há um ano, na localidade de Khan Sheikhoun, que matou quase 100 pessoas.