23 abr, 2018 - 21:08
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Desde que chegou ao poder, no final de setembro do ano passado, que João Lourenço tem levado a cabo uma “limpeza” nos altos cargos angolanos.
O atual presidente de Angola sucedeu a José Eduardo dos Santos, que esteve 38 anos no poder, e parece estar decidido a afastar a velha guarda, fiel a Zédu, como é conhecido.
João Lourenço já substituiu mais de 100 chefias e nenhuma área foi poupada.
Nos primeiros 50 dias de governação, o presidente de Angola exonerou as administrações de quase todas empresas do setor empresarial do Estado: dos diamantes ao petróleo, da banca à comunicação social.
Esta semana chegou às funções do Estado. Da diplomacia aos quartéis as mudanças prometem não ficar por aqui.
Economia
Uma das primeiras áreas “limpas” por João Lourenço foi a da indústria diamantífera de Angola, uma das principais fontes de rendimento do país.
Na empresa pública Sodiam, responsável pela comercialização dos diamantes do país, João Lourenço exonerou Beatriz Jacinto de Sousa em novembro passado (nomeada seis meses antes por José Eduardo dos Santos) e nomeou para o lugar de presidente do conselho de administração Eugénio Bravo da Rosa.
Saíram também Filipe Sérgio Gomes Adolfo e José das Neves Gonçalves Silva, que eram administradores executivos.
Na Empresa Nacional de Diamantes (Endiama), foi exonerado Carlos Sumbula e foi nomeado para o lugar José Manuel Ganga Júnior, que até 2015 foi diretor-geral da Sociedade Mineira de Catoca, responsável por 75% da produção diamantífera anual angolana.
Na Empresa de Ferro de Angola (Ferrangol), concessionária estatal do setor mineiro do país, foi substituído Diamantino Pedro Azevedo (presidente do conselho de administração) por João Diniz dos Santos.
Para o Banco Nacional de Angola, João Lourenço nomeou José de Lima Massano e saiu Valter Filipe.
Da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) foi exonerada Isabel dos Santos, filha do anterior chefe de Estado. Uma saída de peso, numa empresa considerada pelo próprio João Lourenço como a “galinha dos ovos de ouro” de Angola.
Comunicação social
Na área da comunicação, uma das primeiras medidas de João Lourenço foi ter decidido o fim do Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (GRECIMA) que havia sido criado em 2012 e era liderado por Manuel António Rabelais.
Nos meios de comunicação social foram afastados os conselhos de administração da Televisão Pública de Angola (TPA), da Rádio Nacional de Angola (RNA), das Edições Novembro (proprietária do Jornal de Angola) e da Agência Angola Press (Angop).
Para além dos irmãos Welwistchea dos Santos e José Paulino dos Santos que saíram dos canais públicos Canal 2 e TPA Internacional, na TPA foram exonerados mais nove cargos de chefia: Hélder Manuel Bárber Dias dos Santos (presidente do conselho de administração), seis administradores executivos: Gonçalves Ihanjica Marichi Luquessa (administrador executivo), Manuel Florindo Rosa dos Ramos, Benedito Joaquim Kapala Kayela, Ana Maria de Lemos Rodrigues de Gouveia, José Fernando Gonçalves Guerreiro, Bidima Manteya Jorge e dois administradores não-executivos: Maria de Lourdes Pereira de Lima Mouzinho e António Baptista.
Na rádio foram também convidadas a sair nove chefias: Daniel Miguel Jeorge (presidente do conselho de administração) mais seis administradores executivos: José Chimuco, Manuel Luzito André, Jossué Salusuva Isaías, Patrício José Cambuandi, Lourenço João Miguel Mutepa, Leona Timóteo Capindissa Graneira, e dois administradores não executivos: Anastácio Pinto Emídio de Brito e Júlia Maria Dias Rodrigues Mingas.
As Edições Novembro passaram a ser dirigidas por Victor Silva. Para a sua equipa de gestão foram nomeadas mais seis pessoas.
Para o conselho de administração da Agência Angola Press foram nomeados Jossué Salusuva Isaías (presidente) e mais outras seis pessoas.
Funções do Estado
Na diplomacia, João Lourenço já substituiu sete embaixadores. O último a ser exonerado foi José Marcos Barrica, que foi afastado do cargo de embaixador da República de Angola em Portugal. Até ao momento ainda não foi divulgado oficialmente o nome do sucessor, mas nos meios diplomáticos, há quem aponte Carlos Alberto Fonseca como sucessor de Barrica em Lisboa.
Antes, o presidente angolano já havia ordenado o regresso ao país de Victor Lima (embaixador em Madrid, Espanha) e que foi substituído por José Luís de Matos, antigo ministro da Comunicação Social.
Miguel da Costa foi exonerado do cargo de embaixador em Paris, França e substituído por Syanga Abílio, ex-secretário de Estado do Ambiente.
Georges Chicoty foi nomeado para a representação diplomática angola em Bruxelas, na Bélgica e Margarida Izata foi colocada em Genebra, na Suíça.
Forças militares
As exonerações de altos quadros angolanos não se limitam ao mundo civil, a “limpeza” de João Lourenço já entrou também nos quartéis.
Desde que tomou posse João Lourenço já exonerou 22 altos responsáveis militares, sobretudo oficiais superiores, que exerciam funções no Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA) e na Casa de Segurança da presidência.
A saída mais recente foi conhecida esta segunda-feira: Geraldo Sachipengo Nunda, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas que foi substituído por António Egídio de Sousa Santos.
Nunda já havia anunciado em novembro passado que estava em condições de se reformar, por já ter completado 65 anos de idade.
Na semana passada, João Lourenço já havia decretado a promoção do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, ao posto de general de Exército e, no mesmo momento, foi licenciado à reforma.
Na polícia, foram exonerados o comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, e o chefe da secreta militar, general António José Maria.
Lemos foi substituído pelo comissário-geral Alfredo Mingas e o general Apolinário José Pereira passou a chefiar a secreta militar.
Dança das cadeiras?
Se as exonerações, como lhes chama o próprio João Lourenço, têm sido consideradas como um sinal de que o Presidente está a fazer reformas no aparelho de Estado angolano, há quem faça uma leitura bem diferente.
Para muitos, a “limpeza” que o Presidente de Angola tem vindo a fazer tem apenas um objetivo: limitar a esfera de influência de José Eduardo dos Santos.
Tudo indica que "Zédu" vai permanecer até ao ano que vem na chefia do MPLA, o partido no poder desde a independência, em 1975.
João Lourenço é vice-presidente do partido e desde que foi eleito Chefe de Estado que começou a tocar a música da dança das cadeiras.
Com o eventual afastamento de José Eduardo dos Santos chegou a hora de trocar os nomes de confiança do ex-Presidente por uma nova equipa de fiéis ao seu mandato. Apesar de soprarem ventos de mudança em Luanda, tudo indica que, na essência, as características do poder angolano não devem alterar-se tão cedo.