05 jun, 2018 - 17:24 • Vasco Gandra, em Bruxelas
O arcebispo emérito do Lubango, D. Zacarias Kamwenho, diz que a atribuição do Prémio Sakharov, que lhe foi concedida em 2001, "despertou as atenções" para o conflito que então assolava Angola.
"Em 2001, ainda estávamos em guerra civil. O Prémio Sakharov veio despertar atenções, já que a guerra estava sendo esquecida e as pressões internacionais praticamente já não existiam", diz D. Zacarias à Renascença, em Bruxelas, onde está para participar, com outros laureados, na conferência e exposição que assinalam os 30 anos do Prémio Sakharov, no Parlamento Europeu.
D. Zacarias Kamwenho destaca também o papel que os eurodeputados portugueses tiveram na altura: "Foi então que os parlamentares portugueses lançaram o meu nome, não tanto como indivíduo, mas como instituição, a instituição Igreja. Sabemos que o trabalho das igrejas foi de facto um trabalho de apelo tanto à reconciliação como ao fim da guerra."
D. Zacarias recorda que, em 2002, houve uma importante caminhada de "reconhecer que o fim da guerra só era possível com a reconciliação. Hoje em dia somos referência e a Igreja foi sempre a referência na questão dos direitos humanos e da defesa da vida".
Na altura, o arcebispo Kamwenho, presidente do Comité Inter-Igrejas para a Paz em Angola, foi considerado um dos símbolos da paz, da liberdade e da reconciliação. O Parlamento Europeu decidiu distingui-lo por ter desempenhado um papel fundamental de mediador no processo de paz que conduziu ao fim da guerra civil em 2002.
Hoje, 17 anos depois da atribuição do Prémio, Angola vive uma nova fase com o mandato do Presidente João Loutenço, há cerca de oito meses em funções.
"As expectativas são muitas, foram muitas. Dentro das expectativas, vemos que há assuntos que estão, de facto, a fazer o seu caminho. O que nós temos, neste momento, é de lhe dar o benefício de que alguma coisa está mudando ou vai mudar".
"Estamos a dar o tempo ao tempo", em Angola, remata D. Zacarias Kamwenho.