07 jun, 2018 - 18:00 • Filipe d'Avillez
Veja também:
Centenas de pessoas fugiram de Moçambique continental durante os últimos dois dias, procurando refúgio nas ilhas Quirimbas, ao largo de Cabo Delgado, de acordo com o testemunho dado à Renascença por uma cidadã portuguesa que se encontra na zona.
"Catarina" é uma portuguesa de 39 anos que até esta quinta-feira se encontrava numa das ilhas das Quirimba, mas que prefere não ser identificada, por não ter autorização da organização para a qual trabalha para falar destes assuntos.
Nas últimas noites, um grupo armado tem espalhado o pânico entre as comunidades da região, matando várias pessoas. Não existe qualquer confirmação sobre a identidade dos atacantes nem sobre as suas motivações, embora se admita a possibilidade de serem radicais islâmicos.
Perante os ataques e ameaças, várias centenas de pessoas têm procurado refúgio nas ilhas, onde muitos já têm familiares. “As ilhas sempre foram local de refúgio. A estrada ninguém pode garantir, então põem-se ao mar, porque as ilhas são muito perto. Depois há muitas ligações familiares, procuram ajuda onde têm família”, explica Catarina.
Nas ilhas, os moçambicanos estão a salvo de mais ataques, mas a dificuldade pode ser outra. “Em Matemo, a ilha mais próxima da primeira aldeia que foi atacada, foram contabilizadas 400 pessoas. O problema da ilha de Matemo é que quase não tem infraestruturas, nomeadamente água potável. É dramático estarem lá de repente mais 400 pessoas. No Ibo, chegaram várias embarcações. Os dados que tive foi que estavam 250 pessoas num bairro, noutro 54 famílias, que sendo famílias moçambicanas, normalmente são grandes.”
“As pessoas que vivem nestas ilhas têm muito poucos recursos, as ilhas são muito isoladas. Não há comida, não há vegetais, têm peixe. O impacto é muito grande. As pessoas com quem eu falava estavam a receber sete, oito pessoas, mas vão chegar mais”, diz.
A Renascença já pediu uma reação sobre este assunto ao Governo de Moçambique, mas ainda não obteve resposta.
Os primeiros ataques levados a cabo pelo grupo ocorreram em outubro de 2017 na zona de Mocimboa da Praia e Palma. A comunidade islâmica de Moçambique já reconheceu a existência de núcleos radicalizados e as autoridades fecharam algumas mesquitas depois dos primeiros ataques, mas há quem diga que a verdadeira causa dos conflitos tenha sido a existência de recursos naturais na zona e que a violência tenha sido provocada para poder militarizar a zona.