17 jun, 2018 - 08:25 • Catarina Santos (em Valência)
Já está em Valência o barco com o casco laranja que captou novamente os holofotes para a situação no Mediterrâneo central, onde continuam a morrer mais de 3 mil migrantes por ano.
O navio da SOS Mediterranée e dos Médicos sem fronteiras tornou-se símbolo do mau estado da política migratória europeia, depois de Itália ter recusado que atracasse nos seus portos, alegando que não tinha obrigação de receber os migrantes resgatamos por ONGs estrangeiras.
As 106 pessoas que o Aquarius transporta são as
mais vulneráveis entre as 629 resgata das há uma semana. Sao sobretudo mulheres
e menores de idade.
Antes do Aquarius atracou o Dattilo, o navio na armada italiana que escoltou esta embarcação até Valência, e com ele os primeiros migrantes. A bordo estavam 274 migrantes que foram resgatados no mar Mediterrâneo pelo navio Aquarius e que já foram acolhidos pelas autoridades espanholas no local
Em declarações aos jornalistas no porto de Valência, o presidente da Cruz Vermelha de Valência disse que chegaram mais feridos do que o esperado, mas que não há patologias graves. São sobretudo lesões e queimaduras.
🔴UPDATE Le débarquement de 106 rescapés depuis l'#Aquarius à #Valence est terminé. Après 8 jours passés en mer, les rescapés et les équipes se sont dit au revoir en musique sur le pont de l'#Aquarius : "C'est pour L'#Aquarius, c'est pour #SOS, c'est pour #MSF". pic.twitter.com/spaDMEDa3s
— SOS MEDITERRANEE France (@SOSMedFrance) 17 de junho de 2018
Migrantes a bordo do Aquarius celebram a chegada a um porto seguro.
De acordo com a informação disponibilizada pelo boletim informativo da Cruz Vermelha, foram transportados 77 homens e uma mulher para o hospital. Sete crianças foram encontradas desacompanhadas e cinco pessoas precisaram de cadeira rodas para sair do barco.
O porto de Valência está preparado para receber a chegada repartida de 630 migrantes que viajavam a bordo de três barcos: 274 no Dattilo, 106 no Aquarius e 250 no navío da armada italiana Orione, o último que está previsto entrar no porto espanhol.
Era neste segundo navio, o Aquarius, que seguiam os casos de saúde que geram mais preocupações às autoridades.
O último navio, o Orione, atracou por volta das 12h00 deste domingo, enquanto ainda decorriam as operações de retirada de pessoas do Aquarius.
Depois de vários resgates difíceis de migrantes em pleno mar Mediterrâneo o Aquarius tentou dirigir-se para Itália, mas foi proibido de atrcar. Malta seguiu o exemplo italiano. Depois das recusas destes dois países em abrir os seus portos, o Governo espanhol ofereceu o porto de Valência para receber o navio, dizendo ser essa a sua obrigação para "evitar uma catástrofe humanitária".
França acolherá também alguns destes migrantes, apesar de ainda não se saberem detalhes de como este processo irá decorrer.
Para já, a única informação pública é a de que está a ser entregue uma autorização aos migrante para permanecerem na Europa 45 dias.
Operação a grande escala
No porto de Valência está montada aquilo que já é considerada uma das maiores operações humanitárias alguma vez montada pelas autoridades espanholas.
As equipas da Cruz Vermelha confirmaram, em conferência de imprensa, que farão uma primeira abordagem ainda dentro dos navios para fazer a triagem. Depois de examinados, os migrantes vão sair em grupos de 20 pessoas e ficarão à espera, em zona exclusiva no porto de Valência, para serem identificados e entrevistados.
Todo o processo será acompanhado por centenas de tradutores.
O objetivo é que as pessoas estejam o menor tempo possível naquelas instalações e possam ser realojadas em centros temporários, antes de ser encontrada solução definitiva em Espanha ou em França, outro país que já se ofereceu para receber parte dos refugiados.
No local estão também vários jornalistas a acompanhar a chegada deste navio que abriu um rombo na política europeia, depois de Itália e Malta terem recusado acolher os migrantes que tinham sido resgatados pelo navio da organização não-governamental SOS Mediterranée.
"Acredito haver um antes e um depois deste episódio" disse, emocionado, o padre Algel, fundador da ONG "Mensageiros da Paz" que, em conferência de imprensa, disse nunca ter visto tantos jornalistas em Valência desde a visita do Papa Bento XVI e que manifestou o desejo de que os casos das pessoas refugiadas que continuam a acontecer não caiam no esquecimento.