19 jun, 2018 - 15:09
A Amnistia Internacional qualifica a situação na fronteira entre os Estados Unidos e México como “uma realidade alarmante” e acusa a administração de Donald Trump de “ter perdido a capacidade de discernimento”.
“É uma realidade alarmante. Separar famílias é contra todos os princípios de boa ética, de valores e até de direitos humanos”, defende o diretor da Amnistia Internacional, Pedro Neto, em declarações à Renascença.
A política de “tolerância zero” seguida por Trump para travar os imigrantes sem documentos tem levado à expulsão de milhares de pessoas, que são obrigadas a deixar os filhos em solo norte-americano. O caso conheceu novos contornos na segunda-feira, quando o site de investigação jornalística ProPublica publicou um vídeo onde se ouvem crianças a chorar pelos pais ou progenitores.
Enquanto os menores choram, ouve-se um agente da polícia a fazer piadas: “Bem, parece que temos uma orquestra aqui. Só falta o maestro.”
“Eles estão cegos, parece que perderam a capacidade de discernimento e de assumirem as responsabilidades por aquilo que está a acontecer", critica Pedro Neto, que enaltece o papel que a comunicação social e a sociedade civil têm desempenhado na denúncia destes casos. “[É importante] mostrar às pessoas aquilo que de facto está a acontecer, para elas não se deixarem enganar por aquele silogismo fácil e populista de Donald Trump”, acrescenta.
A administração norte-americana tem estado debaixo de fogo desde que o caso foi revelado numa investigação da Associated Press. Donald Trump já reagiu ao caso, dando como exemplo a crise de migrantes no Mediterrâneo.
Em conferência de imprensa, o líder norte-americano prometeu que "os Estados Unidos não vão ser um campo de migrantes” e, no Twitter, apontou para o caso alemão, onde, segundo o presidente dos Estados Unidos, se tem verificado uma subida nas taxas de criminalidade – algo que é estatisticamente falso.
A gravação foi feita na semana passada, num centro de detenção de migrantes no Texas, por uma pessoa que pediu para não ser identificada com receio de sofrer retaliações. Segundo essa testemunha, as crianças teriam entre 4 e 10 anos e estariam no centro há menos de 24 horas. Os oficiais do consulado terão tentado consolar os menores com rebuçados e brinquedos, mas sem grande sucesso.
Desde abril, mais de 2.300 crianças foram separadas dos pais. As crianças são mantidas em jaulas, dentro de salas cujas luzes estão acesas o dia inteiro e onde existem casas de banho portáteis.