19 jul, 2018 - 07:36
Itália avisa que está proibida a entrada de navios da União Europeia (UE) com migrantes a bordo nos seus portos, até que Bruxelas reforme a sua política de recolocação de migrantes. Depois de ter barrado navios de várias Organizações Não Governamentais (ONG’s), agora são os navios militares de estados-membros da UE que estão a ser impedidos de desembarcar nos portos italianos. Foi o que aconteceu no passado fim-de-semana com um barco irlandês.
Reafirmando a sua determinação em interromper os fluxos migratórios para Itália, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano anunciou, na quarta-feira, que vai pedir formalmente uma mudança na política de desembarques de navios militares da operação anti-máfia da UE, conhecida como Operação Sophia.
Itália pretende que a missão naval da União Europeia no Mediterrâneo deixe de trazer automaticamente migrantes resgatados para os portos italianos. As exigências de Roma consistem, basicamente, em impedir que a Itália seja o único país que recebe desembarques de migrantes no Mediterrâneo central.
A decisão italiana está a causar a indignação junto dos parceiros europeus. Alguns ameaçam mesmo sair da operação Sophia.
Navio com dois cadáveres impedido de atracar em Itália
Na terça-feira, um novo episódio reatou a polémica. Uma organização espanhola, a Proactiva Open Arms, resgatou dois corpos e uma sobrevivente de uma embarcação destruída no Mediterrâneo.
A ONG acusa a guarda costeira líbia de abandonar os migrantes e critica Itália por ter fechado, mais uma vez, os portos à entrada de uma embarcação de resgate, aceitando a sobrevivente, mas não os dois corpos.
🔴#ULTIMAHORA Denunciamos omisión de socorro en aguas internacionales y abandono de una persona con vida y los cadaveres de un niño y una mujer por los supuestos Guardacostas Libios, a los que Italia legitima y pone al frente. Cada muerte es consecuencia directa de esa política. pic.twitter.com/2IsxyDHazn
— Proactiva Open Arms (@openarms_fund) 17 de julho de 2018
O navio da ONG acabou por pedir autorização a Espanha para atracar, o que implica percorrer um percurso mais longo até chegar ao porto de Palma de Maiorca.
Versões contraditórias
Itália diz que apenas recusou o acesso à ilha de Lampedusa porque não existem infraestruturas para o armazenamento de cadáveres e que deu à organização a opção de atracar em dois portos diferentes.
No Twitter, o ministro italiano da Administração Interna, Matteo Salvini, disse que o acesso nunca tinha sido bloqueado. “Apesar da boa vontade dos nossos portos sibilinos, a ONG escolhe ir para Espanha. Têm algo a esconder?”
Nonostante la nostra disponibilità di porti siciliani, la nave Ong va in Spagna, con donna ferita e due morti...
— Matteo Salvini (@matteosalvinimi) 18 de julho de 2018
Non sarà che hanno qualcosa da nascondere??? https://t.co/9mY44yY8RU
Por outro lado, segundo a agência Reuters, a Guarda Costeira da Líbia negou ter abandonado os migrantes, mas não deu qualquer explicação sobre a embarcação destruída.
Desde a formação do novo governo de coligação em Itália, vários navios de resgate de migrantes já foram impedidos de entrar em portos italianos. Roma quer que as autoridades líbias se encarreguem de levar os migrantes para as zonas costeiras do país africano.
O caso mais mediático foi o do navio Aquarius, que passou dez dias no Mar Mediterrâneo com centenas de pessoas a bordo, sendo recusado em Itália e em Malta. O navio acabou por atracar em Espanha.