30 ago, 2018 - 21:15
Centenas de refugiados entram no Bangladesh todos os dias. Fogem da repressão militar no Estado de Rakhine, no oeste de Myanmar, um país vizinho que não lhes reconhece cidadania. Aos quase 200 mil rohingya que já viviam neste campo de refugiados juntaram-se, nos últimos anos, mais 700 mil.
Num país onde domina o budismo, os rohingya representam uma minoria muçulmana que tem sido alvo de perseguições. O campo de refugiados que agora os acolhe não estava preparado para receber tantas pessoas. Bill Frelick, diretor do programa de direitos dos refugiados na Human Rigths Watch, visitou recentemente este campo no Bangladesh e descreve à Renascença o que encontrou.
“O campo, a que chamamos MegaCampo, dá abrigo a mais de 700 mil pessoas e foi construído de forma muito rápida e aleatória, depois da limpeza étnica em Myanmar, que começou no dia 25 de agosto do ano passado. O campo foi construído maioritariamente sobre uma área de floresta em terrenos montanhosos e a primeira coisa que os refugiados fizeram foi cortar as árvores e isso implica uma enorme perda de capacidade em assegurar a conservação da estabilidade dos solos”, explica.
“Neste momento o campo enfrenta um período de chuvas e isso quer dizer que as pessoas estão sujeitas a inundações e deslizamentos de terras. Eu próprio vi lugares onde ocorreram deslizamentos de terras que resultaram na perda de casas e por "casas" eu quero dizer abrigos improvisados de bambu e lona”, acrescenta.
Bill Frelick relata ainda um cenário de sobrelotação que põe em risco a saúde pública e aumenta a possibilidade de "contração de doenças contagiosas, risco de incêndio nas estações mais secas e outro tipo de disfunções sociais”.
De acordo com o dirigente da Human Rigths Watch, as autoridades proibiram os rohingya de construir abrigos mais estáveis, “porque insistem na ideia de que as estadias no campo devem ser apenas temporárias”.
Um relatório da ONU revelado esta semana pede, explicitamente, às autoridades de Myanmar que enfrentem acusações de genocídio, devido à repressão brutal contra os muçulmanos rohingya, desde o ano passado. O porta-voz do Governo de Myanmar, Zaw Htay, rejeitou esta quarta-feira o pedido da ONU e acusa as Nações Unidas de apresentar "falsas alegações". Quanto à possibilidade de condenação destas autoridades, Bill Frelick confessa que a ausência de consenso pode atrasar o processo.
“Nós vemos o Conselho de Segurança das Nações Unidas bastante dividido no que toca a várias questões políticas e, por isso, a capacidade de chegar a um acordo está longe de estar assegurada, neste caso”, explica.