04 set, 2018 - 20:02 • Olímpia Mairos
“A Venezuela vive agora uma das crises mais terríveis da sua história recente, uma crise que retirou às pessoas a capacidade de reagir, pela pobreza extrema, destruição da sua saúde e pela violação dos seus direitos fundamentais”, alertou esta terça-feira, em Fátima, a representante da Cáritas daquele país sul-americano.
Em declarações à Renascença, a irmã Maria José Gonzalez refere que a crise afeta sobretudo a população mais vulnerável, as crianças entre os zero e os cinco anos e os idosos.
Segundo a responsável da Cáritas Venezuelana, cerca de 170 mil crianças morreram por falta de alimento, desde o início da atual crise económica e política, e regressaram ao país doenças que se consideravam erradicadas, como a tuberculose e a malária.
Outro grande problema para o qual alerta a religiosa prende-se com a imigração dos mais vulneráveis.
“As primeiras pessoas a imigrar foram as que tinham possibilidades. Depois, os profissionais e a seguir os jovens que foram criminalizados durante os protestos contra o Governo. Neste momento, a imigração é mais terrível porque são os mais vulneráveis, os que saem sem passaporte e sem possibilidade de sobreviver ao atravessarem as fronteiras”, denuncia a irmã Maria José Gonzalez.
Ainda sobre este problema, a irmã Maria José Gonzalez refere que a “Cáritas não promove a imigração nem quer que as pessoas saiam do país, mas, já que partem, pelo menos damos-lhes informação segura, para não caírem em redes ou trabalho escravo”.
A representante da Cáritas da Venezuela afirma ainda que os venezuelanos “não estão a sair para fazer turismo, trata-se, sim, de uma imigração forçada, que dói, pelo grande problema que é a crise humanitária”.
A Cáritas da Venezuela está a desenvolver um programa de acompanhamento de crianças em situação de subnutrição, que pode ir de 8 a 12 semanas, “para salvar vidas”, oferecendo ainda refeições à população necessitada.
A presença da representante da Cáritas da Venezuela em Portugal tem como objetivo “dar visibilidade ao sofrimento do povo” venezuelano.
“É um sofrimento de partir o coração, porque atinge os mais vulneráveis, os que vão sofrer danos irreversíveis, as crianças até aos 5 anos. E irreversível porque, depois, não vão poder aprender, não vão poder desenvolver-se e não vão poder contribuir”.
A irmã Maria José Gonzalez apela à cooperação no sentido de “criar mecanismos de segurança e garantir os direitos humanos” do povo venezuelano. E refere que está em Portugal “como Igreja, para buscar cooperação dos pares, com as ‘Cáritas irmãs’ de Portugal e Cáritas Internacional.
Além da presença em Fátima, a irmã Maria José Gonzalez vai encontrar-se, em Lisboa, ao início da tarde de segunda-feira, com o Alto Comissário para as Migrações e, à noite, estará em Aveiro para se reunir com venezuelanos regressados e algumas organizações de apoio.
Na terça, 11 de Setembro, Maria José Gonzalez terá diversos encontros com parceiros e empresários e no último dia da sua estadia em Portugal, a 12, terá a oportunidade de manter contactos com a comunicação social.