05 set, 2018 - 08:55
Um novo livro sobre os bastidores da Casa Branca revela o “caos” de uma gestão presidencial “em colapso nervoso”, com vários membros do gabinete presidencial a tentar controlar os impulsos de Donald Trump.
A obra intitulada “Fear: Trump in the White House” (Medo: Trump na Casa Branca, numa tradução livre) é da autoria de Bob Woodward, um dos dois jornalistas responsáveis por revelar o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do ex-presidente Richard Nixon, em 1974.
Apesar de o livro, com mais de 400 páginas, só ter lançamento previsto para 11 de setembro, alguns excertos foram divulgados esta quarta-feira pelo "Washington Post" e pela CNN.
Documentos retirados da secretária de Trump
Baseado em centenas de horas de entrevistas, o livro diz que a Casa Branca sofreu “um golpe de Estado administrativo” com a chegada de Donald Trump.
Bob Woodward relata alguns episódios em que membros da equipa presidencial retiraram documentos da secretária de Trump para evitar que o Presidente os assinasse, tomando decisões precipitadas em assuntos como a segurança nacional e o comércio internacional.
"O pior trabalho que já tive"
O jornalista escreve que o chefe de gabinete do Presidente, John Kelly, apelidou Trump de “idiota”. “Não faz sentido tentar convencê-lo do que quer que seja. Estamos numa terra de loucos. Nem sei porque é que qualquer um de nós está aqui. Este é o pior trabalho que já tive”, terá dito John Kelly. O chefe de gabinete de Trump já negou estas afirmações.
Trump queria matar Assad
Outro excerto do livro relata que Donald Trump esteve prestes a ordenar o assassinato do Presidente sírio, Bashar al-Assad. Terá sido em abril de 2017, depois de receber os relatórios sobre um ataque com armas químicas contra civis, com autoria atribuída ao regime sírio.
De acordo com o livro, Trump terá dito ao secretário norte-americano da Defesa que queria Assad assassinado. James Mattis terá dito que atenderia ao pedido do chefe de Estado, mas, em vez disso, ordenou o bombardeamento a uma base aérea na Síria.
Atitudes de "um aluno do quinto ou sexto ano"
Num outro episódio, Mattis é novamente protagonista. O livro conta que, em certa ocasião, terá dito a “a assessores muito próximos que o Presidente agiu como - e tinha a compreensão de - um aluno do quinto ou sexto ano”.
Em comunicado, e à semelhança de John Kelly, o secretário da Defesa também negou ter feito tais declarações e apelidou o livro de “ficção”.
“Não testemunhe. É isso ou um fato laranja”
Um outro episódio revelado pelo livro conta que, em janeiro, o advogado pessoal de Trump, John Dowd, encenou uma entrevista com o Presidente para lhe mostrar que, se falasse com o procurador especial Robert Mueller sobre a alegada interferência russa na campanha eleitoral, as consequências seriam desastrosas.
Posteriormente, John Dowd terá ido ao encontro de Mueller para dizer que não concordava com a proposta de levar Trump a testemunhar, pois não queria ver o Presidente a “parecer um idiota” e a envergonhar a nação.
Dowd terá mesmo dito a Trump: “Não testemunhe. É isso ou um fato laranja”, aludindo à indumentária utilizada pelos presos.
Contudo, e apesar das recomendações do advogado, Trump decidiu que queria testemunhar. No dia seguinte, Dowd renunciou.
Donald Trump já reagiu no Twitter à obra de Woodward. “A citações são baseadas em fraudes, num golpe público. Assim como outras histórias e citações. Será Woodward um agente [do Partido] Democrata?”, escreveu.
De acordo com a CNN, Trump ficou irritado por não ter sido entrevistado por Bob Woodward. Em resposta, o "Washington Post" divulgou o áudio da conversa entre o jornalista e Donald Trump, na qual Woodward explica que tentou falar com seis pessoas da Casa Branca para conseguir a entrevista. “Eles não me disseram”, lamenta Trump.