12 out, 2018 - 10:50 • Pedro Mesquita com Redação
"Fernando Albán foi detido no dia 5 deste mês e foi levado a tribunal no domingo, dia 7". É desta forma que Joel Garcia, advogado de Fernando Albán, começa por recordar os dias que antecederam a morte do vereador venezuelano, filiado num partido da oposição a Nicolás Maduro.
Albán foi detido por suspeita de envolvimento na alegada tentativa de assassinato do Presidente Maduro. Só conseguiu falar com o advogado dois dias depois da detenção, quando foi presente a tribunal. "Apesar da ordem de captura, não havia absolutamente mais nada", conta o advogado, em entrevista à Renascença.
"Falamos tranquilamente e ele disse-me que não o torturaram mas havia muita pressão no interrogatório. O corpo de segurança queria que ele gravasse um video onde dissesse que o deputado Julio Borges - também do partido Primeiro Justiça - estava envolvido na preparação do magnicídio, mas o Fernando recusou."
Na segunda-feira, 8 de outubro, o advogado esperava que Albán fosse novamente a tribunal, "mas ele nunca chegou". "Horas mais tarde, disseram-nos que o Fernando se tinha lançado de um 10º piso", recorda.
Contudo, Joel Garcia não acredita na tese de suicídio avançada pelas autoridades. "Ele não tinha motivos, porque não estava incriminado naqueles acontecimentos", afirma.
O facto de Albán ter que abrir uma janela para se atirar, também suscita dúvidas ao advogado. "Seria quase impossível abrir a janela e saltar sem que ninguém o visse e impedisse. Sabemos que na Venezuela os presos políticos são vigiados 24 horas por dia e com recurso a câmaras de vídeo."
Joel Garcia acrescenta ainda que, numa publicação no Twitter, um antigo chefe de investigações de medicina forense que terá estado na morgue disse "que Fernando Albán teria morrido por emersão. Encontraram água nos seus pulmões. Terá sido essa a conclusão da autópsia mas, por ordem do ministro, a conclusão foi alterada".
"O que se diz é que terá sido objeto de tortura. Excederam-se e a única forma de justificar uma morte foi essa", afirma.
Joel Garcia apela à comunidade internacional, incluindo o Governo português, para solicitar ao Governo venezuelano, "que permita o acesso de uma comissão, de um qualquer organismo externo à Venezuela que seja independente e imparcial".
O advogado pede uma investigação para apurar a causa da morte de Albán e que "se perceba se Fernando Albán, tal como Juan Requesens, estiveram realmente envolvidos no suposto atentado".
Juan Requesens, deputado da Assembleia Nacional da Venezuela, está detido há dois meses igualmente por suspeita de estar envolvido na tentativa de atentado a Nicolás Maduro. À Renascença, a família denunciou que o deputado tem sido alvo de tortura psicológica e teme pela sua vida.