23 out, 2018 - 10:33
O Facebook apagou páginas de apoio a Jair Bolsonaro, o candidato da extrema-direita às presidenciais brasileiras, por violarem políticas de autenticidade e de spam. Ao todo, foram 68 páginas e 43 perfis pessoais que a rede social decidiu fechar.
Todas as contas estavam associadas a uma única entidade, o grupo Raposo Fernandes (RFA). O Facebook disse, em comunicado, que a decisão em apagar as páginas de apoio a Bolsonaro se deveu ao spam que estas produziam. "Temos visto spammers (pessoas que criam spam) usando cada vez mais conteúdo sensacionalista político – em todos os espectros ideológicos – para construir uma audiência e direcionar tráfego para os seus sites fora do Facebook, ganhando dinheiro cada vez que uma pessoa visita esses sites", revela a rede social.
O grupo RFA geria páginas como o Movimento Contra Corrupção ou a TV Revolta, cada uma com mais de três milhões de 'gostos'. Era a maior rede de apoio ao candidato. Uma reportagem do The Intercept, um meio de comunicação online no Brasil, revelava que o grupo tinha recebido pagamentos do Partido Renovador Trabalhista Brasileira, o partido do candidato a vice-presidente de Bolsonaro, António Mourão.
As páginas pendiam várias vezes para o lado das políticas Bolsonaro; aliás, o grupo geria também páginas que expressavam apoio ao candidato e celebraram o resultado da primeira volta, que deu a vitória ao polémico candidato.
Em comunicado, o Facebook defende a decisão, garantindo que apaga as páginas não pelo seu conteúdo e pela sua posição política, mas sim pela forma como o publicavam.
"As pessoas por trás da RFA criaram páginas usando contas falsas ou múltiplas contas com os mesmos nomes, o que viola as nossas políticas. Eles então usavam essas páginas para publicar uma grande quantidade de artigos caça-cliques (ou "clickbait", em inglês), com o objetivo de direcionar as pessoas para os seus sites fora do Facebook. Esses sites, por sua vez, têm uma grande quantidade de anúncios programáticos e pouco conteúdo, funcionando como “fazendas de anúncios” (“ad farms”, em Inglês). Nós baseamos a nossa decisão em remover essas Páginas pelo comportamento delas – como o facto de estarem a usar contas falsas e repetidamente publicarem spam -, e não pelo conteúdo que estavam a publicar", esclarece a rede social.
As notícias falsas no Brasil têm sido motivo de conversa. A 18 de outubro, o jornal brasileiro Folha de São Paulo revelou que algumas empresas estariam a enviar mensagens em massa contra Fernando Haddad, o opositor de Bolsonaro, e o seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), através da rede social WhatsApp, sob o patrocínio de apoiantes de Bolsonaro.
A Folha de S. Paulo descobriu um contrato de 12 milhões de reais (cerca de 2,8 milhões de euros) de uma empresa que distribuiu este tipo de mensagens. Bolsonaro já negou qualquer envolvimento com o caso.
O Whatsapp tem cerca de 120 milhões de utilizadores no Brasil, rivalizando com o Facebook como a principal plataforma no país (apesar do Whatsapp pertencer ao Facebook, tendo sido comprado pela empresa-mãe em 2014 por mais de 19 mil milhões de euros.).
A aplicação tornou-se na principal forma dos brasileiros se contactarem e é também uma importante ferramenta para obter informação política. No entanto, a plataforma tem sido inundanda com notícias falsas e teorias de conspiração, a maior parte desfavoráveis a Fernando Haddad.
Não é a primeira vez que as "fake news" interferem com uma eleição importante no panorama internacional. De recordar que as notícias falsas estiveram debaixo de fogo pela influência que tiveram nas eleições americanas de 2016, que elegeram Donald Trump como presidente.
Na segunda-feira, Fernando Haddad alegou que os empresários que apoiam Bolsonaro estariam a pagar para inundar as plataformas sociais com propaganda pró-Bolsonaro, o que viola gravemente as leis eleitorais. Haddad já pediu a impugnação da candidatura de Bolsonaro.
Da parte do Whatsapp, a rede social disse que está a "tomar ações legais imediatas de forma a parar as empresas de mandar mensagens em massa", incluindo enviar cartas às empresas para pararem esta atividade.