25 out, 2018 - 00:01 • Graça Franco (Renascença) e Sónia Sapage (Público)
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Desde que, em março de 2016, sucedeu a Paulo Portas, um dos líderes mais populares que o CDS-PP já teve, Assunção Cristas conseguiu deixar a sua marca no partido, ao colocá-lo em segundo lugar em Lisboa nas eleições autárquicas de 2017. Mas quer mais. “Sinto-me muito uma empreendedora da política. E quero acrescentar mais ao CDS porque acho que o CDS pode ser muito mais para o país. Quero encontrar as políticas certas e as pessoas certas para um dia podermos merecer ser a primeira escolha”, diz a presidente do partido à direita do PSD, que assume o papel de travar o populismo no nosso país. Se votasse no Brasil, assume, nem Haddad nem Bolsonaro. Abstinha-se.
Ontem
reuniu-se com os vários grupos de polícias que hoje se manifestam. O que os
preocupa? Dá-lhes razão?
Confirmámos aquilo que o CDS tem dito em relação a muitos pontos que este
é um orçamento enganador, por ter proclamações que depois não correspondem à
realidade dos números. Aquilo que tivemos oportunidade de verificar com os
sindicatos, da PJ, da PSP, é que de facto há promessas que foram feitas pelo
Governo que não são cumpridas, há redução das verbas orçamentadas para
muitos pontos que não permitem saber que aquilo que o Governo tem vindo a
anunciar vai ser concretizado.
Exemplos...
No caso da PJ há uma redução do orçamento pelo quarto ano consecutivo e há um
número que eu partilho convosco porque me impressionou muito: há dez anos havia
300 inspectores dedicados à corrupção, neste momento há 70. Como é que podemos
querer um Estado de Direito a funcionar melhor, com instituições fortes, com a
capacidade de escrutinar aquilo que está mal na área da corrupção quando não há
meios e não vai haver previsivelmente?
O PSD
apresentou uma reforma da Justiça. Partilha as preocupações de Rui Rio?
O CDS tem há seis meses no Parlamento várias propostas na área da Justiça,
algumas das quais são coincidentes com as que o PSD pretende propor e têm a ver
com a questão muito prática da celeridade. Gostaria que essas
propostas pudessem ser confrontadas, debatidas e decididas e aprovadas e
temos toda a disponibilidade para isso. Temos também outro processo em marcha
que já foi devidamente anunciado, com o dr. Rui Medeiros, que é uma reforma
para a justiça, em questões que eventualmente possam implicar uma revisão
constitucional. Também aí, as ideias que temos estão em linha com algumas
das propostas do dr. Rui Rio. Do nosso lado há toda a disponibilidade.
Contudo,
os dois partidos não estão a comunicar sobre o assunto...
Nós temos comunicado sobre o assunto, mas sobre esse ponto a melhor pessoa
a quem perguntar é o dr. Rui Rio. Porque ele é que defendia um método que neste
momento está inviabilizado. Pressupunha um modelo de trabalho que, no momento
em que a comunicação social publica aquilo que está nesse trabalho preparatório
do PSD, é muito difícil de seguir. Do nosso lado há sempre abertura, com
propostas concretas.
A relação
no Parlamento entre PSD e CDS mudou bastante nos últimos três anos. Reconhece?
Não concordo. Ainda agora nós entendemos que as alterações feitas no Código
Civil na área do direito de preferência violam a Constituição. Não temos o
número suficiente de deputados (23) para pedir uma fiscalização sucessiva da
constitucionalidade, mas estamos em diálogo ao nível do Parlamento com o PSD
para perceber se eles concordam connosco e se querem juntar-se. É um exemplo de
diálogo que existe nas várias áreas.
Preferia
um Governo Cristas-Santana Lopes se o PSD descer nas sondagens e for
substituído pela Aliança ou preferia Rio-Cristas?
Quero um Governo de centro-direita. Um Governo que tenha 116 deputados de
partidos que se revejam nesse espaço político. Não me conformo com a posição
tradicional do CDS, que é sempre estar em segundo plano. Ontem, na 13.ª
sessão do nosso ciclo de conferências
Ouvir Portugal, ouvi empreendedores. Uma das
coisas que disseram é que não se contentam com sermos pequeninos. Nesse
sentido, sinto-me muito uma empreendedora da política. E quero acrescentar mais
ao CDS porque acho que o CDS pode ser muito mais para o país.
Dê-nos
três razões para um indeciso votar no CDS e não no PSD.
Ponto um: rejeitamos o socialismo, não queremos ter nenhum acordo com os
socialistas e, portanto, um voto no CDS não irá para a viabilização de um
Governo do António Costa. Ponto dois: temos uma estratégia muito clara do
ponto de vista das prioridades políticas: a questão demográfica, a questão da
coesão territorial e a questão da nova economia. Por fim, acreditamos num
Estado social de parcerias, o que significa que o Estado não deve querer fazer
tudo, deve procurar a conjugação certa para que os serviços públicos de
qualidade sejam prestados da melhor forma às pessoas, seja pela área pública,
social ou privada.
Com a
excepção de nunca apoiar o PS, no resto, não há uma grande diferença...
Há algumas diferenças. Já ouvi o dr. Rui Rio dizer várias vezes que se
sente como um homem à esquerda. Isso não ouvirá dizer de mim.
Tem dito
que vê o CDS como uma espécie de travão ao populismo da direita. Sente esse
dever?
Sinto e posso dizer-lhes que é talvez a minha maior preocupação neste momento.
Olho para o mundo, para Europa e não só, e pergunto-me sempre como é que nós no
CDS conseguimos ao mesmo tempo ter um discurso moderado e democrático
assente nos valores em que nós acreditamos, e não fazendo nenhuma concessão
desse ponto de vista, mas ao mesmo tempo mostrar que há aqui um caminho de
futuro de confiança, de rasgo e de esperança para todos nós.
Isso não
vai colocar o CDS ainda mais à direita?
Não, porque nós não nos assumimos como um partido de direita radical. O grande
desafio é saber como é que nós, não declinando o nosso espaço de direita, mas
de direita democrática, conseguimos travar eventuais populismos. O CDS até
agora fê-lo. Havia uma máxima do dr. Paulo Portas que era: "À nossa
direita só a parede".
Se tivesse
o dilema dos brasileiros, votaria Haddad ou Bolsonaro?
Eu não votaria no Brasil.
Abstinha-se?
Nestas eleições eu não votaria no Brasil.
Abstendo-se,
não estaria a dar a vitória a Bolsonaro?
Não sei. Dependeria de todos os que votassem do outro lado. Eu certamente não
seria capaz de votar num partido que destruiu o sistema democrático brasileiro,
que é responsável pelo outro extremismo que está a crescer. Como também, apesar
de ser do espaço político de centro direita, não me revejo nos extremismos
de Bolsonaro e não seria capaz de votar nele.
Entre a
corrupção e a ditadura o que é que preferia?
Nenhuma... é por isso que é tão desafiante. A corrupção leva à ditadura.
Destrói, mina a democracia e leva à ditadura. Não se pode prolongar a
corrupção. Por isso dizia que essa é a minha grande preocupação: como é que o
CDS encontra para Portugal o caminho que nos impede de ter derivas extremistas.
Os extremismos são maus, à direita e à esquerda.
Tem
estado a ouvir Portugal, o que é que tem ouvido? E o que tem aproveitado?
A cada reunião, temos ideias novas. Acrescentámos para o Orçamento do Estado uma medida que ouvimos na Guarda que tinha a ver com a isenção de TSU da parte das empresas para os trabalhadores que vêm em substituição de grávidas que estão em baixa de gravidez ou nas licenças de maternidade e de paternidade. É mais uma medida que vamos juntar ao nosso pacote já vasto das medidas para o apoio à natalidade e à demografia.