06 nov, 2018 - 15:31 • Cristina Nascimento
O antigo diretor de pesquisa da Cambridge Analytica, Christopher Wylie, considera que os “eleitores foram tratados como terroristas”. Em causa está o escândalo de tráfico de dados de milhões de pessoas que foram influenciadas com o objetivo de manipular resultados eleitorais.
Wylie foi o homem que denunciou o que se estava a passar e contou, na Web Summit, os pormenores do caso. Wylie explicou que antes sequer de existir a Cambridge Analytica já se fazia manipulação de informação, mas, como era na área militar, aceitava-se essa manipulação.
“Nesta área, aceita-se que a informação seja usada para interferir, por exemplo, num grupo de recrutamento para o Estado Islâmico ou no sistema de comunicações de um grupo extremista, porque esses grupos têm por objetivo fazer mal às pessoas”, explicou. O problema, acrescenta, é que depois “os eleitores foram tratados como terroristas”.
Wylie explicou que a estratégia passava pelo algoritmo do Facebook que motivava as pessoas a entrarem em determinadas páginas ou grupos para criar um movimento. A seguir, uma parte dessa comunidade era convidada a encontrar-se num café local para “falar sobre coisas que não vêm nos jornais”.
“Quem vai pensa que toda a gente pensa daquela forma. Por isso, vão para casa ver as notícias e acham que aquilo é mentira”.
O antigo diretor garante que por várias vezes tentou denunciar o que se passava junto de altos dirigentes da administração Obama e do Partido Democrata, mas que ninguém fez nada.
“A administração de Obama disse-me para não me preocupar. Achavam que o Donald Trump era um parvo, mas a Hillary iria ganhar”.
Wilye reafirmou ainda que todo o processo foi aprovado pelo Facebook e que os dados foram parar à Rússia.
O moderador da conversa, o jornalista Krishnan Guru Murthy, do Channel, 4 perguntou ainda a Wylie se valeu a pena ter ficado com a vida virada do avesso após as denúncias que fez.
“Sim”, disse hesitações, acrescentando depois: “Agora as pessoas estão a falar sobre isso. Sinto que tenho um dever de falar. Eu estava ali sentado num dos maiores abusos de dados de sempre.”