15 nov, 2018 - 10:37
A primeira-ministra britânica, Theresa May, defendeu esta quinta-feira o pré-acordo para o Brexit alcançado na quarta-feira com a União Europeia.
Perante o Parlamento britânico, May defendeu a ideia de que este pré-acordo permite dar ao povo britânico aquilo que escolheu no referendo de 2016, dando margem de manobra para uma transição mais "suave".
May foi imperativa na escolha que o Parlamento tem de fazer: ou há apoio a este pré-acordo ou não há uma transição para o Reino Unido pós-Brexit, disse sob fortes apupos. "Podemos escolher sair sem nenhum acordo, podemos arriscar não ter um Brexit de todo ou podemos escolher unir-nos e apoiar o melhor acordo que pode ser negociado", disse May, acrescentando: "Eu escolho seguir a vontade do povo britânico".
A primeira-ministra foi brindada com o riso dos deputados, enquanto tentava explicar os detalhes da negociação e admitiu que não foi um "processo confortável".
Falando sobre os pormenores da futura parceria com a União Europeia, Theresa May referiu que a livre circulação irá terminar, que o Reino Unido irá abandonar a política agrícola comum (PAC), bem como a política comum de pescas. Apesar de tudo, a primeira-ministra garantiu que a cooperação com a União Europeia em termos de defesa e segurança será "próxima e flexível".
A líder do Governo britânico apontou também que o atual acordo permitirá ao Reino Unido sair da União Europeia em 134 dias e disse que não queria estender o período de implementação, não acreditando que este seja necessário.
Tudo isto no mesmo dia em que cinco membros do Governo apresentaram a demissão.
May promete defender referendo e critica Governo anterior
Quanto a possibilidade de um novo referendo, a primeira-ministra voltou a colocar essa hipótese de lado, dizendo que não foi para isso que os britânicos lhe deram o mandato.
“Os britânicos votaram em números nunca antes vistos. E sempre defendi que voltar a consultar os britânicos não é correto”, argumentou.
Theresa May aproveitou a oportunidade para criticar o anterior primeiro-ministro David Cameron (membro do mesmo partido), que se demitiu logo após o resultado do referendo de 2016.
"Muitas pessoas disseram que o Brexit não era possível e eu nunca aceitei isso", atirou a primeira-ministra.
Na declaração inicial, a líder conservadora do Governo britânico disse ainda que prometeu que defenderia o referendo por todo o Reino Unido.
"Tenho uma responsabilidade com o povo em todas as partes do nosso país e tenciono honrar essa responsabilidade", prometeu.
Críticas da oposição
Também no Parlamento, o principal líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, criticou a solução da primeira-ministra, nomeadamente por o acordo não incluir uma estratégia para a imigração. Por isso, Corbyn acredita que o Parlamento não deverá aceitar a “falsa escolha” entre não ter acordo e este acordo apresentado pela primeira-ministra.
Apesar das garantias de Theresa May de que a saída do Reino Unido é para avançar, o trabalhista apontou ainda o facto de, no acordo, se escrever que a transição pode chegar a “20XX" e se isso pode, “porventura, significar 2099”.
Jeremy Corbyn lembrou ainda a onda de demissões do executivo, conhecidas esta quinta-feira, e acusou o actual executivo de estar um caos.
A questão Irlanda do Norte
A fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte – a última faz parte do Reino Unido e, por consequência, sairá da União Europeia – é um dos pontos mais sensíveis do pré-acordo. Sendo a única parte do Reino Unido com uma fronteira terrestre com a UE, May admitiu que a questão irlandesa poderá ser tratada numa "futura relação" com a comunidade europeia.
A primeira-ministra garantiu ainda que a Irlanda do Norte terá acesso ao mercado único europeu.
Sobre outros países constituintes do Reino Unido, nomeadamente o País de Gales, May defendeu que os negócios entre Gales e a Irlanda (parte da União Europeia) não sairão prejudicados.
Este ponto deixou os deputados escoceses indignados com a primeira-ministra. Ian Blackford, do Partido Nacional Escocês, questionou o porquê de existirem inúmeras referências à Irlanda do Norte, a Gibraltar e a outros territórios britânicos, mas nenhuma à Escócia.
May respondeu afirmativamente: "A Escócia faz parte do Reino Unido!". Backford acusou May de ignorar a vontade do povo escocês, já que uma grande maioria dos escoceses respondeu "não" ao Brexit no referendo.